Por Maria Júlia Paes da Silva –
juliaps@usp.br
Fragmento da obra: "No caminho - Fragmentos para ser o melhor"
Quando resolvemos ser o melhor possível, podemos deixar que as coisas e
os outros sejam o que conseguirem ser ou deixar de gastar energia tentando
fazer que os outros sejam aquilo que eu imagino seja o melhor. Se somos
conscientes do compromisso de sermos o melhor de nós mesmos a todo instante,
tomamos as decisões com esse foco e não ficamos perdidos em elucubrações de: e
se... e se... Economizamos energia. Motivo pelo qual é verdade que se um
relacionamento tiver que ser segredo, é melhor não entrar nele. Ou sair
rapidinho.
Só porque o caminho do autoconhecimento é longo, constante e árduo,
deveríamos deixar de trilhá-lo? Será que somos menos capazes que um bebê? Todos
nós já fomos bebê e deveríamos ter suficiente prática em levar tombos!
Auto-observação é autocorreção. Teve uma doença grave? Faça controle
periódico e toque a vida. Tem uma doença crônica? Faça os controles necessários
e curta a vida!
A construção de nossa história deve/pode nos confortar. Reconhecer que
fez o melhor possível em determinado momento não significa que faria novamente
o que fez, hoje. Significa apenas que fomos tomando consciência de algumas
coisas e refazendo escolhas a partir de nossas necessidades, miopia, ilusão e
recursos.
Responsabilizarmo-nos pela vida que há em nós é fundamental para
vivermos no presente e para fazermos o melhor possível...
Peter Senge e sua equipe afirmam que "transferência de
responsabilidade" é uma estrutura sistêmica arquetípica, quando as pessoas
agem para amenizar os sintomas de um problema e acabam se tornando mais e mais
dependentes dessas soluções sintomáticas. Por exemplo: tomar duas aspirinas
para aliviar a dor de cabeça parece adequado, mas... Se a origem dessa dor for
o estresse do trabalho ou compromissos assumidos além de nossa capacidade ou
habilidade, continuar tomando aspirinas não é resolutivo! Nesse caso, uma
intervenção como essa pode mascarar um desafio mais grave. Não enfrentar o
desafio real só fará piorá-lo. Se o padrão que gerou o desconforto não for
corrigido, além do excesso de trabalho, pode-se ainda criar um problema de
dependência medicamentosa...
Esse aspecto precisa ser recordado porque é um padrão insidioso e comum
em uma sociedade que exige soluções rápidas para questões complicadas e
complexas. E, por ser comum, essa dinâmica de transferência de responsabilidade
passa despercebida. Nós somos os responsáveis por nossa vida!
As duas abordagens "soluções sintomáticas" e "soluções
fundamentais" não são mutuamente exclusivas, até porque a vida é complexa!
Mas é fácil transferir a responsabilidade para soluções tecnológicas e, assim,
reduzir o desenvolvimento de nossas habilidades e capacidades. Por exemplo: com
a calculadora, esquecemos a aritmética; com o carro renunciamos ao caminhar;
com o Whatsapp, não conversamos pessoalmente; com a internet, se reduziram as
conversas entre familiares e o "olho a olho" (até remédio em excesso
é veneno!).
É necessário cultivar os hábitos, as posturas, os comportamentos, os
sentimentos que desenvolvem nossa capacidade de sermos humanos! De sermos o
melhor de nós.
Muitos dos desafios mais prementes de hoje, como danos ambientais e
desigualdade no acesso à tecnologia, surgem como efeitos colaterais de longo
prazo do processo de transferência de responsabilidade, criando novos sintomas
do problema, que requerem, por sua vez, novas respostas tecnológicas. É
necessário refletir o quanto é adequado ou nocivo, apesar de mais fácil,
comprar um carro maior para nos sentirmos mais seguros, em vez de aprendermos a
nos entender uns com os outros a fim de gerarmos mais segurança para todos. A
maioria de nós não tem ideia de nossa capacidade para aprimorar as qualidades
que realmente valorizamos na vida.
Hoje em dia, definimos o progresso basicamente por novas conquistas em
tecnologia e não por uma noção mais ampla de melhora no bem estar! Fazer o melhor
possível é um "chamado", uma oportunidade para nos entregarmos a algo
maior que nosso ego e a nos tornarmos aquilo que deveríamos e podemos ser.
Lavarmos as mãos mesmo quando ninguém está olhando. Cumprirmos com
horários e prazos combinados, sem inventarmos "imprevistos" (se não
tiver um, claro!). Assumirmos o quê e como dissemos algo, pedirmos desculpas
quando errarmos, sermos honestos com nossas intenções... Parecem tão simples
essas ações, mas que Maria entendeu que a base de qualquer trabalho consigo
mesmo é uma consciência limpa. Consciência limpa permite que harmonizemos razão
e coração, e por isso viver em harmonia começa conosco, não com o mundo à nossa
volta.
Maria se lembrava da história de um homem muito crente, que todo dia pedia
a Deus que lhe indicasse o que deveria ser feito. Um dia, por ele ter tanta fé,
Deus lhe apareceu e pediu que empurrasse, diariamente, a grande pedra que havia
em frente à sua casa. Ele fez isso todos os dias, com alegria, anos a fio, mas
foi percebendo que a pedra não se movia nem um só centímetro. A fé do homem foi
esmorecendo, sua vontade diminuindo, até que um dia Deus lhe apareceu novamente
e lhe perguntou o que estava acontecendo. Ele lhe disse que a pedra não havia
se movido um centímetro, apesar de, diariamente, ele a ter empurrado! Deus
sorriu e lhe disse que sua intenção não era mover a pedra, mas torná-lo forte!
Que ele prestasse atenção a como estavam seus músculos e sua força.
fANTASTICO, JÁ EESTOU DIVULGANDO
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