Boa parte do que consideramos saúde
decorre do sentido que atribuímos à nossa própria vida. Nada contra uma vida sem sentido, decorrência
natural da fé nos “genes egoístas”, se é que podemos atribuir caráter ao
material genético. Mas se por um lado alguns se renderam à ideia do “humano máquina”
– resultado das escolhas de seus genes – não somos poucos os que vivem
percepção diversa.
De fato, conforme se vive, com maior
clareza se aprecia a distância do comportamento humano daquele das máquinas. Enfatizo
só se notar isso entre os optantes pela opção “viver”, pois dentre os que
optaram apenas por “existir” ainda é comum se observar o comportamento do tipo
máquina. A propósito, acho já lhe perguntei antes, mas repergunto: você está
vivendo ou apenas existindo?
O comportamento tipo máquina não possui fundamento próprio senão aquele
para o qual a “máquina” foi programada. Isso é muito importante para elas, que
se pensassem causariam problemas, mas no caso do humano a situação se inverte,
sendo não pensar o gerador do problema. Ironia, justo esse não pensar subjaz ao
adoecimento silencioso do ser. Silencioso, pois não há apenas saúde e doença,
mas largo espectro de apresentações passando por duas situações geralmente
subdiagnosticadas, sejam elas o estado de subsaúde
e o de pré-doença. Mais comuns do
que se possa imaginar, decorrem da capacidade natural de cada pessoa, eventualmente
à revelia, se adaptar a situações e contextos de vida ainda que contrários a
seus valores pessoais existenciais.
Esses valores pessoais deveriam funcionar como motivadores existenciais e
são únicos a cada ser humano que, reforço, optou por funcionar no modo “viver”.
São eles que determinam o sentido pessoal da vida de cada um de nós. Entretanto,
conforme cotidianamente a pessoa se afasta dos mesmos, ganha espaço um estado
progressivamente comum de esvaziamento interior. Este afastamento é potencializado
por estímulos externos ao ser e por outro lado é contornado em situações de
cultivo da realidade interior com maior ênfase. Curiosamente hoje a atenção
está sendo direcionada cada vez mais para fora que para dentro. Nada contra
isso em si, mas do ponto de vista médico tudo contra não se aperceber disso!
Ora, se o sentido da vida é tão imprescindível e Viktor Frankl já falou um pouco a este respeito, pelo menos cabe aos que
“vivem” perguntarem-se: “Eu estou vivendo aquilo que para mim faz o maior
sentido?” ou ainda: “Faz sentido ao profundo do meu ser a forma como venho
vivendo?”.
Essas questões, feitas de maneira honesta e em recolhimento evocam a
percepção interior de ser ou não insubstituível naquilo que se faz. Esta noção
é fundamental para a compreensão da ideia de saúde. Somos tanto mais saudáveis
quanto mais próximos desse sentido pessoal e optaremos melhor tanto quanto nos
percebermos únicos dentro deste processo de escolha. A busca pessoal pelo
sentido da vida é condição sine qua non
para a saúde plena. O afastamento do princípio diretor individual eterno (ser) decorrente
das benesses do culto temporal ao ter pode ser prenúncio de caminho pouco
auspicioso.
Temos acompanhado repetidas vezes as dificuldades dos humanos em
conseguir não usurpar a coisa pública; diga-se de passagem, colegas nobres com
seus genes egoístas advindos de “genética nobre” estão fazendo escola, mas
escola de como não fazer. Bom exemplo hoje é artigo de luxo. Quem diria presenciaríamos
em vida a eleição, conforme Gil em Guerra Santa, do bom ladrão?!
Veja ainda: Quando a saúde encontra a política...
De qualquer modo, isso tudo parece se relacionar à questão da zona de
conforto que muitos cidadãos buscam em sua vida: fazer um pé de meia, comprar
uma terrinha, uma casinha na praia e tudo isso para quando eu me aposentar...
Tudo indica que muitos pretendem “existir” até a aposentadoria e a partir daí
começar a “viver”.
Do ponto de vista médico, entretanto observa-se fenômeno bisonte, seja o
adoecimento que se dá, não raro, justo no momento derradeiro da conquista tão
esperada. O humano que funcionou até então no modo predatório “ter” tenta passar
a operar, aposentado, em modo para o qual não se preparou a vida toda, o modo
“ser”. Observo no cotidiano que esta mudança comportamental, quando tardia,
cobra alto preço de seus adeptos, sendo a doença em todas as suas nuances o
principal sintoma. Assim, acredito ser questão de saúde pública a se considerar:
educar as referências sociais para inspirar e instilar saúde nas instituições e
nas pessoas que delas fazem parte. Coisa simples para o que boa vontade e amor
no coração seriam medicações mais que suficientes.
Neste regime, o supremo tribunal do amor (STA) seria a instância máxima
não a punir senão por questão de saúde pública arcar com os custos da internação
(eventualmente perpétua) e reabilitação psiquiátrica dos contraventores e
megalomaníacos que se perderam de si em favor da cobiça. Veja, por favor, que
escrevo isso por acreditar e vir falando que “Saúde é Consciência”, de modo que
na atualidade com tudo o que se sabe já se poderia estar em situação
razoavelmente melhor...
Bem, tudo isso para chegar à questão título desta pequena reflexão: “Você
é insubstituível?”. Para alguém ser insubstituível precisa ser único, ímpar,
inigualável, genial, tudo isso sinônimos da palavra indivíduo. Para saber se
você é insubstituível imagine que neste instante deixará de existir aqui na
terra (Pause 30 segundos...). Se perceber que tudo em que estás envolvido
continuará acontecendo com ou sem sua presença, isso sugere que você seja
substituível, decorrência de operar no modo existir.
Caso tenha se incomodado, isso não é ótimo, mas é bom sinal e indica
haver interesse e vida em você. Ser insubstituível requer ser único! De fato,
cada um de nós é único e o que nos torna insubstituíveis é ser e viver este
aspecto único que trazemos, sentimos, portamos interiormente e manifestamos.
Para alguns de nós este algo único é luminoso e pode ser até mesmo visto ou
percebido pelos outros e pelos seus cinco sentidos físicos; para outros este
algo único é silencioso e sua luz de tessitura tal que transborda, sustenta e
une tudo aquilo que está além dos cinco sentidos físicos. Aqui não há melhor ou
pior, é na diferença que o único ganha espaço; a diferença é uma das linhas do
tecido do amor, sem a qual ele não se pode manifestar, ao menos não aqui nesse
texto...
Ser único não é garantia de vida fácil (zona de conforto), mas garantia
de alegria e felicidade pelo simples fato de estar harmonizado ao seu principio
diretor, seu sentido existencial. A propósito, felicidade é critério pessoal e
não droga ou medicamento encontrado em farmácia ou livro de receitas. Em Jó é
possível aprender sobre a dicotomia ter e ser, assim como os benefícios e a
superioridade do segundo modo em relação ao primeiro. Ninguém é condenado ou
obrigado a ser feliz assim como ninguém deveria acreditar que felicidade
significa a mesma coisa para todos, como se tenta definir no dicionário.
"Faça o que for necessário para ser feliz. Mas
não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la
e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade” Mário Quintana
Finalmente, quando se ressalta o aspecto único de cada ser como
responsável pelo seu caráter insubstituível, seja lembrada a analogia com o
quebra-cabeça. Cada uma de suas peças é única e o todo só se compõe quando cada
uma ocupa seu lugar exato. Cobiçar algo, desejar ser como alguém ou mesmo
invejar são prerrogativas do modo “ter” que colocam em risco a individualidade,
torna as peças do quebra-cabeça iguais e impossibilita sua completude. Houvesse
duas ou mais peças iguais e o todo estaria comprometido. Da mesma forma, a
pessoa que É se torna insubstituível por transbordar a partir de si e não por
algo que lhe foi depositado, atribuído ou que a constitua a partir de fora.
Quantas peças extraviadas, né?
ResponderExcluirAinda não se percebeu que importante é o eu na sua totalidade e não na sua aparência, seja lá qual for.
Só pode acabar em doença, e nem se precisa esperar pela aposentadoria!!!
Beijo querido Ricardo.
o desejo de ser insubstituível todos nós temos só não sabemoscomo fazerpelo simples fato de que as pessoas consideram outros fatores mais importantes do que a própria simplicidade de ser feliz!
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