Veja também: http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2011/06/corpus-christi-do-latim-corpo-de-cristo.html
Dr. Ricardo,
Caro e sempiterno amigo.
Cristo e sua história, em
toda sua riqueza de detalhes, vêm sendo continuamente objeto de estudos, considerações
e apresentações sob os mais diversos ângulos de análise, sejam eles religiosos,
ou não, filosóficos, históricos, psicanalíticos e sociais e, sob apresentações
em suportes os mais díspares, que nos vem sendo oferecidos desde tempos
imemoráveis até os nossos dias.
Aquilatar os porquês de
tamanho interesse foge à parca dimensão de nossa vida, assaz pequena e tão
repleta de percalços e embates diários, mormente em razão de nossa complexidade
como seres humanos viventes num pedaço tão ínfimo do Universo.
Isso não nos impede,
porém, de determo-nos em aspectos que num vicejar ainda que efêmero nos leve a
conjecturarmos sobre a vida e as atitudes dessa figura gigantesca que se
apresenta sob o nome de Jesus Cristo.
Primeiro logo na infância
nos condoemos ao saber de sua triste passagem pela terra e ao abismo doloroso a
que foi levado e tragado por todas as forças imperiosas oficiais, ou não, que
regiam os destinos dos humanos à época.
Depois, quando atingimos
a fase adulta, embora admiremos a figura de Cristo, questionamentos nos fazem pôr
em dúvida a demanda de azares que acometeram sua vida e as causas que realmente
o levaram a tantos infortúnios e, ao final, à morte pela crucificação.
Em princípio, o porquê o
Pai o abandonou, como, aliás, ele mesmo se queixa, já nos estertores da sua
malfadada vida, em meio a ganas de violência inusitada e sem limites.
Afinal, o que havia ele
feito para merecer tanta violência e um imerecido castigo, de
desproporcionalidade sem par e inimaginável.
Logo ele, que até então, levava
uma vida simples, voltada a ajudar o próximo sem ver a quem, sem troca de
favores, nem mesmo financeiro, haja vista o compartilhar da mesa, do pão e do
vinho, em sua “Última Ceia”.
Tanto assim parece que,
se a patuleia aceitou, colaborou e apoiou tamanho sacrifício, o dia do
acontecer da morte de Cristo, a natureza - sempre sábia - se fez presente em seu
desagrado, tornando a data um horroroso dia de trovões, como descreveu Gregório
de Matos em soneto:
“Na confusão do mais
horrendo dia,
Painel da noite em
tempestade brava,
O fogo com o ar se
embaraçava,
Da terra e água o ser se confundia
Bramava o mar, o vento
embravecia.
Em noite o dia enfim se
equivocava,
E com estrondo horrível,
que assombrava,
A terra se abalava e
estremecia.
Lá desde o alto aos
côncavos rochedos,
Cá desde o centro aos
altos obeliscos
Houve um temor nas nuvens,
e penedos.
Pois dava o céu ameaçando
riscos
Com assombros, com
pasmos, e com medos,
Relâmpagos, trovões
raios, coriscos”.
Alega o Pai, com o aceite
e concordância de muitos e muitos outros que lhe seguem a doutrina cristã, que
Ele assim o fez para salvar a “humanidade” e remir-lhes, com o seu exemplo, todos
os pecados humanos, que, em sua doutrina catalogou: soberba, avareza, luxúria,
ira, gula, inveja, preguiça.
Ora, tais pecados, ainda
hoje, não subsistem a quaisquer exames, ainda que fortuito ou aprofundado, pois
os humanos pecam, por serem humanos, nada mais que humanos, não se lhes oferecendo
tamanha violência marcada pela crucificação de Cristo, seu filho, em parâmetros
de exemplos, em prol da salvação da humanidade, mesmo que nesses pecados sejam
incluídos a os dez mandamentos de sua “Lei” divina, consubstanciados no que se
chamou “Decálogo”, como, aliás, o renomado cineasta polonês Kieslovski (1941-1996),
delineou em sua célebre série sob mesmo nome.
Essa justificação,
portanto, não manifesta ser plausível, a qualquer tempo, ainda, porque Deus é o
Todo Poderoso e Onipotente, não precisando de tal subterfúgio inclemente e inidôneo
para alcançar os seus fins.
Como se não bastasse,
ungiu do sangue e do corpo de Cristo, para aduzir a oferenda da salvação, na
doutrina eclesiástica, em perpetuação ao sacrifício de sua morte na cruz, nos
termos da “Última Ceia” e convertendo a renovação sacramental do sacrifício da
cruz no santo ofício da “Missa”.
Toda essa exposição de
conteúdo religioso consubstanciou-se ao longo dos tempos em amostragens de fé e
religiosidade, que compreendem cultos e procissões, adornadas por tapetes
feitos pelos fiéis, com materiais de uso comum para enfeitar o chão por onde
passariam, e a remissão dos pecados por meio da “Hóstia Consagrada”, cuja
doação é feita aos fiéis no “Calix Sagrado” durante as missas, e, uma e outro
guardados em Oratório, no altar-mor das igrejas.
Calix Bento
Ó Deus salve o oratório
Ó Deus salve o oratório
Onde Deus fez a morada
Oiá, meu Deus, onde Deus
fez a morada, oiá.
Onde mora o calix bento
Onde mora o cálix bento
E a hóstia consagrada
Oiá, meu Deus, e a hóstia
consagrada, oiá.
De Jessé nasceu a vara
De Jessé nasceu a vara
E da vara nasceu a flor
Oiá, meu Deus, da vara,
nasceu a flor, oiá
E da flor nasceu Maria
E da flor nasceu Maria
De Maria o Salvador
Oiá, meu Deus, de Maria o
Salvador, oiá
(Calix Bento - adaptação
livre de Tavinho Moura e voz de Milton Nascimento)
Toda essa manifestação,
hoje, congrega em data especial, o dia de Corpus Christi, celebrada, com
feriado, procissões, preces e o acender de velas em homenagens ao sangue e ao
corpo de Cristo, sacrificado.
Para nossa ventura
louvemos Jesus Cristo, sim, mas não esqueçamos que a vida, para sua plenitude e
saúde, necessita de compartilhamento e consciência, até mesmo nos atos
distantes do pensamento racional, para encontrarmos sua lógica nos esconsos
secretos da existência.
Mário Inglesi
Muito bom texto. Como já era de se esperar, um excelente pensamento. Façamos desta data não apenas um feriado repleto de celebrações cristãs, mas a reflexão de ideais e sentimentos de uma vida de exemplos em prol de nós e dos outros.
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