Os Sete Eus - Gibran Khalil Gibran |
Panaceia é o nome grego da deusa que contém em si o potencial de cura para todos os males. Cura
e consciência, irmãs gêmeas que o poeta consulta e transforma em
medicina para a alma e para o espírito, para
o Ser.
Compreender o abismo que separa as
religiões e suas instituições, dos luminares humanos que irradiaram em suas
vidas conteúdos espirituais é fundamental para um caminhar saudável. Quem não
percebe este abismo, corre o risco de colocando tudo em um mesmo saco, deixar
de se nutrir da seiva da mensagem, por confundi-la com sua aparência,
determinada pelos recipientes que se apropriaram de sua essência, como máscaras que usadas por um tempo longo, se colam deformando a face da verdade. Verdade que para Drummond era assim:
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Abaixo um pequeno texto de Gibran
Khalil Gibran – Fragmento de “Jesus O filho do homem” em que Malaquias da Babilônia,
um astrônomo, fala dos Milagres de Jesus...
Perguntas-me sobre os milagres de Jesus.
Cada milhar de milhar de anos, o sol
e a lua e a terra e todos os seus planetas irmãos postam-se numa linha reta, e
conferenciam juntos por um instante.
Depois, lentamente se dispersam e
esperam que passe outro milhar de milhar de anos.
Não há milagres além das estações;
entretanto, nem vós nem eu conhecemos todas as estações. E que seria se uma
estação se fizesse manifesta na forma de um homem?
Em Jesus, os elementos de nossos
corpos e de nossos sonhos ajuntaram-se de acordo com a lei. Tudo o que era
perdido no tempo antes Dele, Nele encontrou seu tempo.
Dizem que Ele deu vista aos cegos, e
fez andar os paralíticos, e arrancou demônios dos loucos.
Talvez a cegueira não passe de um
pensamento escuro que pode ser dominado por um pensamento luminoso. Talvez um
membro paralítico não signifique senão uma indolência que pode ser estimulada
pela energia. E talvez os demônios, esses elementos inquietos de nossa vida, possam
ser expulsos pelos anjos da paz e da serenidade.
Dizem que Ele trouxe os mortos à
vida. Se me puderdes dizer o que é a morte, então eu vos direi o que é a vida.
Observei num campo uma bolota, uma
coisa aparentemente parada e sem utilidade. E na primavera, vi aquela bolota
criar raízes e crescer – princípio de um CARVALHO – na direção do sol.
Certamente consideraríeis isso um
milagre; entretanto, tal milagre se realiza um milhar de milhar de vezes na
sonolência de cada outono e na paixão de cada primavera.
Por que não se realizará ele no
coração do homem? Não se encontrarão as estações na mão ou sobre os lábios de
um Homem Ungido*?
Se nosso Deus deu à terra a arte de
abrigar a semente enquanto a semente está aparentemente morta, por que não
daria ao coração do homem soprar a vida em outro coração, mesmo um coração
aparentemente morto?
Falei desses milagres que eu
considero de pouca consequência em comparação com o milagre maior, que é o
Próprio Homem, o Viajante, aquele que converteu minha escória em ouro, que me
ensinou a amar os que me odeiam, e assim me trouxe consolo e povoou meu sono de
sonhos suaves.
Esse é o milagre em minha própria
vida.
Minha alma era cega, minha alma era
coxa. Eu era possuído por espíritos inquietos, e estava morto.
Mas agora vejo claramente, e caminho
ereto. E estou em paz, e vivo para testemunhar e proclamar meu ser a cada hora
do dia.
E não sou um dos Seus seguidores.
Sou apenas um velho astrônomo que visita os campos do espaço uma vez por
estação, e que gosta de observar a lei e os milagres da lei.
E estou no crepúsculo de meu tempo;
mas quando quero procurar meu alvorecer, procuro a juventude de Jesus.
E para sempre, a idade procurará a
juventude. Em mim, agora, é o conhecimento que está à procura da visão.
* - Do
grego - "Χρίστος", Chrístos = Ungido
Esta sua postagem relembra-me que a mitologia, a poesia, a literatura, quando sensíveis e profundas, podem nos transportar a outros níveis de consciência - entradas para o conhecimento da Vida e da Realidade.
ResponderExcluirAbraço,
Leonel
Verdade Leonel!
ExcluirAcrescento ainda entrada para Saúde.
Abraço
Muitos dos que vivem são vivos-mortos. Mas todos os que morrem são mortos-VIVOS. A luz não está na luz. A luz está ao lado da sombra. Aquele que almeja encontrar a luz sem ao menos dar-se conta da escuridão, padece na ilusão.
ResponderExcluir"Sem resistência não há evolução." Rohden
Bjs
Maria Inez
Caramba Maria!
ExcluirAssim você confunde minha cabecinha!
Bjo
Ah! E Feliz Ano Novo :o)
ResponderExcluirMaria Inez
Kalil Gibran é pleno de sabedoria. Veja esse pequeno texto do seu livro "A Voz do Mestre":A vida é uma ilha num oceano de solidão, uma ilha cujas rochas são esperanças, cujas árvores são sonhos, cujas flores são abandono e cujas fontes estão secas". Um abraço, Zília
ResponderExcluir"