Dr. Ricardo
Atendendo aos reclamos da brava torcida organizada, que atualmente
vive em estado de latente desespero em razão de sérios acontecimentos em campo,
ouso alinhavar abaixo algumas linhas de reflexão para acalmá-la, atendendo ao
fato de referir-se à maior regente do império dito masculino - nossa amada
imortal: a Mulher.
“Dia Internacional da Mulher”: 08/03/2013
O Dia Internacional da Mulher, em homenagem e comemoração às
mulheres e suas conquistas, fica muito aquém do merecido pelas mulheres por sua
faina diária, em duplas ou triplas jornadas de trabalho, em prol delas mesmas,
mas também em favor dos filhos, do marido e de possíveis outros agregados ao
seu clã familiar.
Mas, também é preciso convir que as mulheres são de natureza
física humana especial e pouco tem a ver com a natureza dos homens. Haja vista
que a mulher menstrua, e muitas vezes sofre por isso e, como se não bastasse,
ainda gera e pari filhos, cujos cuidados invariavelmente ficam a seu cargo, a
começar pela amamentação.
Para se ausentar desses mil afazeres, apregoam que a mulher use a
famosa “pílula anticoncepcional”, e, aí estará livre para usar e usufruir de
sua sexualidade.
Isto é idealização, pois, ao que se saiba, as tais pílulas além de
outros males, também provocam em muitas de suas usuárias AVCs que as levam a
problemas ainda mais graves com sequelas, quando não à morte prematura.
Então, no quesito de satisfação de sua sexualidade, os
prognósticos são irrisórios, quando não, amedrontadores.
Mas, mesmo que as pílulas não lhes tragam problemas, o tal
preservativo para os homens, também pode falhar e furar. Ou, então, se aquela
contagem a partir da última menstruação, não foi correta, pronto, tudo vai por
água abaixo, e a gravidez vem à tona, e aí, a situação fica preta, ou como
dizem alguns, no mato sem cachorro, pois o aborto é criminalizado, com exceção
para as classes mais altas, e, se teimarem em fazê-lo em clínicas clandestinas
ou por métodos de infalibilidade precária, a mulher tem de suportar todas as
agruras em sua saúde e sua sexualidade.
Por outro lado, se resolverem não atender aos apelos de sua
sexualidade, tem que suportar a pecha de “tias solteironas” ou então apelarem para
formas diferentes de atendimento à sexualidade e isto as torna mal vistas e,
quiçá, excluídas pela sociedade, como mulheres pecaminosas ou de má fama.
Se, pertencerem, então, às classes inferiores, e, abandonarem seus
recém–nascidos em lugares inapropriados, eis que, embora atormentadas por
culpas e remorsos por tais feitos, se descobertas, ainda têm de amargar e
amargurar um sistema prisional e um processo, que lhes marcarão pela vida toda,
de modo irreversível.
Agregado a isso, a gravidez precoce a alterar-lhes todo e qualquer
sonho de vida futura, e a AIDS a aterrar-lhes como estigma social, de
transmissão viral possível e, como tal, indesejável. No campo econômico e
trabalhista, as mulheres ainda têm muito a reivindicar. A começar pela paridade
de vencimentos com os homens, quando exercem o mesmo trabalho.
De toda forma, a mulher e a sua saúde continuam em jogo nesse tabuleiro
de injustiças sociais, onde predomina ainda contra elas o direto dos homens a
sua posse e a sua vida, em que pese todas as delegacias das mulheres e as
inúmeras queixas registradas, elas continuam morrendo, sob formas as mais
esdrúxulas de violência e morticínio.
Com tudo isso, as mulheres ainda têm muito pouco a comemorar no
seu dia, mas, e isto sim, a reivindicar, deblaterar e gritar em alto e bom som
em defesa de seus direitos e em favor de sua saúde, sexualidade e vivência, sem
competitividade, sem resquícios de vingança ou mal- querença. Afinal, se algum mal lhes for atribuído que tenham
não só o direito de se defenderem como de usarem da maior liberdade de fazê-lo,
em defesa e benefício próprios.
Para isso, é preciso encarar de vez, sua situação feminina, num mundo
prioritariamente masculino e machista e deixar de lado aquele romantismo ingênuo,
na procura do príncipe encantado, no afã de casamento em maio: mês das noivas,
e, principalmente afastar-se de todo aparato inócuo que prefigura o ato do
casamento com a busca inarredável de uma felicidade duradoura e eterna,
propagada pela mídia, em prol do merchandising de compra e venda de produtos,
os mais profundamente supérfluos e de inútil adequação, para um viver
partilhado amorosamente.
Quanto a nós, homens, só nos resta, como Vinicius de Moraes,
declarar, sem pejo, mas em mãos postas em prece, como em contrição:
“Eu sem você
Não tenho porque
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar.
Eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor.
Tristeza que vai
Tristeza que vem.
Sem você meu amor, eu não sou ninguém”
Mário Inglesi