O filósofo e pedagogo Ivan Illich é um humano
sabidão. Digo “é” pois a qualidade maior do ser e dos que são, é a eternidade.
Eternidade lá e aqui, lá fácil entender, mas aqui enquanto privilégio dos que
semearam a verdade trazida no coração desde lá longe no sem tempo até o momento
do nascimento no tempo aqui no planeta azul. Sabidona é uma pessoa que consegue
pensar soluções em meio a situações e ambientes inóspitos.
Por pensar inóspitos, Ivan nos convida à possibilidade de uma sociedade
em que a educação poderia acontecer sem escolas e a saúde sem hospitais.
Loucura? De forma alguma! Em obra extensa e de clareza admirável, o autor
aponta caminhos para a construção da inusitada proposta.
https://vimeo.com/66948476 - Entrevista
com Ivan Illich
Os ministérios da educação e saúde podem e devem zelar para que obras de
pensadores sabidões e capazes de pensar o novo possam ser traduzidas com mais
brevidade, especialmente em países como o Brasil em que os orçamentos destinados
ao colegiado, grupo, ministério ou “patota da saúde” são mais rechonchudos
comparativamente aos demais ministérios.
Hermes e Asclépio com três de suas filhas e alguém que implora |
Hermes é a divindade grega
relacionada ao comércio e seu
símbolo é o caduceu; Asclépio se correlaciona com a prática médica, sendo citado logo após Apolo no tradicional Juramento
de Hipócrates. Na figura acima, aparece acompanhado de três de suas filhas:
Higéia (higiene, limpeza e prevenção), Panacéia (a solução para todos os males,
a síntese da saúde) e Meditrina (longevidade). Iaso (recuperação da doença),
Agléia (Esplendor, Graça e Beleza) e Aceso (o processo da cura) também são suas
filhas, apesar de não retratadas aqui.
Toda exploração e aproximação
simbólica visam auxiliar o humano na lembrança de conceitos e saberes
predispostos à corrosão temporal e, portanto dos valores com os quais se
relacionam; no presente caso vem à tona a relação entre a arte e os aspectos
mercantis relacionados. Caro amigo, observe o olhar de Asclépio para Hermes
assim como a posição de súplica do homem na representação acima e compreenderá
a que me refiro.
A imagem grita o que palavras apenas balbuciam. Lembre-se ao saborear as belas
propagandas oferecidas na atualidade; as maiores mentiras são, geralmente,
contadas por personagens bem aparentados, em muitos casos contraexemplos práticos
das mensagens propagadas. Já se disse que a mentira repetida muitas vezes se
torna verdade; repitamos verdades apenas e que a inanição cumpra sua função com
o resto.
Ivan Illich |
Illich, no contundente texto Medical
Nemesis, apresenta com lucidez ofuscante os tópicos que esclarecem a tensão
saúde-doença, assim como a cri$e de confiança que a medicina moderna atrave$$a.
Veja-se a situação recente dos hospitais da cidade maravilhosa neste início de 2016.
Lembremos conforme se repete aqui ad
nauseum que: cuidar da saúde é simples e barato, correr atrás da doença é
complexo e dispendioso.
A discussão sobre iatrogênese proposta por Ivan aponta o leigo e não o
médico como portador da chave para a solução dos problemas que ele designa como
“epidemia iatrogênica”. Emancipação requer vontade e para tal o pensar não pode
estar alienado ou anestesiado; a pessoa deve fazer algo para melhorar (ser
agente) e não esperar que o terapeuta faça algo por ela (ser paciente). Nas
palavras de Ivan em 2003 no Journal of Epidemiology & Community
Health :
“A saúde designa um
processo de adaptação. Não é resultado de instinto, mas de vida autônoma e
reação à realidade experimentada. Ela designa a habilidade de adaptação a
ambientes em mudança, de crescer e de envelhecer, de se curar quando lesado, de
sofrer e da expectativa pacífica da morte. A Saúde envolve o futuro também e inclui
portanto a angústia e os recursos internos para viver com ela.
A habilidade humana
em lidar com sua fragilidade, individualidade e capacidade de se relacionar de
forma autônoma é fundamental para sua saúde. Na medida em que a pessoa se torna
dependente na lida com sua intimidade ela renuncia à sua autonomia e sua saúde
declina. O milagre verdadeiro da medicina moderna é diabólico. Ele consiste em
fazer não apenas indivíduos, mas populações inteiras sobreviverem em
desumanamente baixos níveis de saúde pessoal. Apenas os operadores de sistemas
de saúde não sabem que a saúde diminui na mesma medida em que se oferecem mais
serviços de saúde, precisamente porque suas estratégias decorrem de sua
cegueira à inalienabilidade da saúde.
O nível da saúde
pública corresponde ao grau em que os meios e as responsabilidades na lida com
a doença estejam distribuídos entre a população total. Esta habilidade em lidar
pode ser aumentada, mas nunca trocada pela intervenção médica nas vidas das
pessoas ou das características higiênicas do ambiente. Aquela sociedade que
possa reduzir a intervenção profissional ao mínimo proverá as melhores
condições para a saúde. Quanto maior o potencial para a adaptação autônoma em
si, aos outros e ao ambiente, menos procedimentos para adaptação serão
necessários ou tolerados.”
Abaixo, um pouco mais do trabalho desse humano que até pouco esteve entre
nós:
Cara Professora Rosi,
ResponderExcluirSe me permite, em que área a senhora professa atualmente?
Por gentileza, tudo o que publico nesse espaço é público. Sinta-se à vontade para usar o material conforme os ditames de seu coração.
Conte comigo em que eu possa lhe ser de alguma utilidade.
Atenciosamente