A Medicina da Saúde é baseada na preservação e na promoção. É sempre superior à Medicina da Doença focada na cura e na prevenção. Somos seres humanos e não "teres humanos”. A doença começa quando se deixa o SER pelo TER; saúde e vitalidade aumentam na direção do SER. A busca pelo SER leva à ampliação da consciência, guia do homem saudável e espelho para o doente. Refletindo o exemplo a ser imitado mostra como sair da horizontalidade do adormecimento e entrar na verticalidade do despertar.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
DESOSPITALIZAÇÃO FAZ SENTIDO PENSAR ALGO ASSIM?
O filósofo e pedagogo Ivan Illich é um humano
sabidão. Digo “é” pois a qualidade maior do ser e dos que são, é a eternidade.
Eternidade lá e aqui, lá fácil entender, mas aqui enquanto privilégio dos que
semearam a verdade trazida no coração desde lá longe no sem tempo até o momento
do nascimento no tempo aqui no planeta azul. Sabidona é uma pessoa que consegue
pensar soluções em meio a situações e ambientes inóspitos.
Por pensar inóspitos, Ivan nos convida à possibilidade de uma sociedade
em que a educação poderia acontecer sem escolas e a saúde sem hospitais.
Loucura? De forma alguma! Em obra extensa e de clareza admirável, o autor
aponta caminhos para a construção da inusitada proposta.
https://vimeo.com/66948476 - Entrevista
com Ivan Illich
Os ministérios da educação e saúde podem e devem zelar para que obras de
pensadores sabidões e capazes de pensar o novo possam ser traduzidas com mais
brevidade, especialmente em países como o Brasil em que os orçamentos destinados
ao colegiado, grupo, ministério ou “patota da saúde” são mais rechonchudos
comparativamente aos demais ministérios.
Hermes e Asclépio com três de suas filhas e alguém que implora |
Hermes é a divindade grega
relacionada ao comércio e seu
símbolo é o caduceu; Asclépio se correlaciona com a prática médica, sendo citado logo após Apolo no tradicional Juramento
de Hipócrates. Na figura acima, aparece acompanhado de três de suas filhas:
Higéia (higiene, limpeza e prevenção), Panacéia (a solução para todos os males,
a síntese da saúde) e Meditrina (longevidade). Iaso (recuperação da doença),
Agléia (Esplendor, Graça e Beleza) e Aceso (o processo da cura) também são suas
filhas, apesar de não retratadas aqui.
Toda exploração e aproximação
simbólica visam auxiliar o humano na lembrança de conceitos e saberes
predispostos à corrosão temporal e, portanto dos valores com os quais se
relacionam; no presente caso vem à tona a relação entre a arte e os aspectos
mercantis relacionados. Caro amigo, observe o olhar de Asclépio para Hermes
assim como a posição de súplica do homem na representação acima e compreenderá
a que me refiro.
A imagem grita o que palavras apenas balbuciam. Lembre-se ao saborear as belas
propagandas oferecidas na atualidade; as maiores mentiras são, geralmente,
contadas por personagens bem aparentados, em muitos casos contraexemplos práticos
das mensagens propagadas. Já se disse que a mentira repetida muitas vezes se
torna verdade; repitamos verdades apenas e que a inanição cumpra sua função com
o resto.
Ivan Illich |
Illich, no contundente texto Medical
Nemesis, apresenta com lucidez ofuscante os tópicos que esclarecem a tensão
saúde-doença, assim como a cri$e de confiança que a medicina moderna atrave$$a.
Veja-se a situação recente dos hospitais da cidade maravilhosa neste início de 2016.
Lembremos conforme se repete aqui ad
nauseum que: cuidar da saúde é simples e barato, correr atrás da doença é
complexo e dispendioso.
A discussão sobre iatrogênese proposta por Ivan aponta o leigo e não o
médico como portador da chave para a solução dos problemas que ele designa como
“epidemia iatrogênica”. Emancipação requer vontade e para tal o pensar não pode
estar alienado ou anestesiado; a pessoa deve fazer algo para melhorar (ser
agente) e não esperar que o terapeuta faça algo por ela (ser paciente). Nas
palavras de Ivan em 2003 no Journal of Epidemiology & Community
Health :
“A saúde designa um
processo de adaptação. Não é resultado de instinto, mas de vida autônoma e
reação à realidade experimentada. Ela designa a habilidade de adaptação a
ambientes em mudança, de crescer e de envelhecer, de se curar quando lesado, de
sofrer e da expectativa pacífica da morte. A Saúde envolve o futuro também e inclui
portanto a angústia e os recursos internos para viver com ela.
A habilidade humana
em lidar com sua fragilidade, individualidade e capacidade de se relacionar de
forma autônoma é fundamental para sua saúde. Na medida em que a pessoa se torna
dependente na lida com sua intimidade ela renuncia à sua autonomia e sua saúde
declina. O milagre verdadeiro da medicina moderna é diabólico. Ele consiste em
fazer não apenas indivíduos, mas populações inteiras sobreviverem em
desumanamente baixos níveis de saúde pessoal. Apenas os operadores de sistemas
de saúde não sabem que a saúde diminui na mesma medida em que se oferecem mais
serviços de saúde, precisamente porque suas estratégias decorrem de sua
cegueira à inalienabilidade da saúde.
O nível da saúde
pública corresponde ao grau em que os meios e as responsabilidades na lida com
a doença estejam distribuídos entre a população total. Esta habilidade em lidar
pode ser aumentada, mas nunca trocada pela intervenção médica nas vidas das
pessoas ou das características higiênicas do ambiente. Aquela sociedade que
possa reduzir a intervenção profissional ao mínimo proverá as melhores
condições para a saúde. Quanto maior o potencial para a adaptação autônoma em
si, aos outros e ao ambiente, menos procedimentos para adaptação serão
necessários ou tolerados.”
Abaixo, um pouco mais do trabalho desse humano que até pouco esteve entre
nós:
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
AINDA SOBRE O ÓCIO EM 2016
Dr. Ricardo,
Desde há muito tempo, o vocábulo ócio está ligado ao estigma pejorativo
de vagabundagem, menosprezo por quaisquer compromissos de trabalho, sejam eles
quais forem.
Para isso, não importava o
motivo de sua existência, apenas se enxergava o fator da ausência da vontade
implícita do trabalho no indivíduo, quer para sustento de si ou de seus
familiares.
Nesse contexto Paulo
Prado, 1869-1943 evoca:
"São desgraças do Brasil
Um patriotismo fofo
Leis com parolas, preguiça
Ferrugem, formiga e mofo."
A essa situação, em tempos
idos, veio juntar-se a descoberta de motivações várias, como doenças
provenientes da existência de vermes no indivíduo, a tendência à fadiga
motivada pela ingestão de excesso de bebidas alcoólicas, incidência de doenças várias
que, em conjunto ou separadamente, impedem o indivíduo e sua vontade, a
qualquer ato em seu beneficio ou de outrem ao seu redor.
Foi o que demandou talvez
Monteiro Lobato, em sua obra Urupês ao criar o Jeca Tatu, trabalhador rural
paulista abandonado pelos poderes públicos às doenças, atraso e à indigência.
Personagem este
configurado, porém, como portador de todos os males sociais, em especial a
preguiça e com ela a característica principal então definida, em última
instância, como vagabundagem.
Com o passar do tempo e as
mudanças sociais ficou constatado, que, na maioria dos casos, eram as doenças
parasitárias endêmicas que levavam os indivíduos ao ócio, à vagabundagem, à
preguiça, à leseira, ou mesmo, influíam para a existência de tal modorra para
qualquer atividade.
Mas, hoje, felizmente,
tudo mudou ou vem mudando, e o ócio deixou de ser pejorativo, para tornar-se
sinônimo de saúde, bem estar, de configurar-se o procurar por si mesmo, em sua
intimidade mais profunda, em promover e valer-se do tão almejado lazer, de dar
vazão à criatividade, configurado na frase cunhada por Domenico De Masi, “Ócio
Criativo”.
E, então, como Macunaíma,
de Mário de Andrade, libertos de todas as pechas, juntamo-nos ao coro dos
contentes e, em alto e bom som, voltamos a bradar:
“Ai, Que Preguiça!”
Pronto: Estamos, enfim,
leves, livres e soltos. Livres para, em preces, cultuar a preguiça, como ócio,
meditação intelectual, maneiras de encarar a vida, de filosofar, tendo como máquina
fundante geradora de um aprazível viver, em sentidos os mais diversos, como, falar,
escrever, se comportar e amar, a exemplo, prazerosamente, do fazer de Manoel
Bandeira:
“Então me levantei.
Bebi o café que eu mesmo preparei
Depois me deitei
novamente,
acendi um cigarro e fiquei
pensando…
- Humildemente nas
mulheres que amei”
A tardança dessa nova
situação, entretanto, não só se faz sentir de maneira abrupta como ainda se
mostra infinitamente difícil de usufruir, nos tempos atuais, do ócio e seu
lazer, nos moldes pretendidos e exigíveis ao atendimento de nosso bem estar e
saúde.
Isto porque já não somos primitivos, como nos
viam os colonizadores, e também pelo fato de que com a engrenagem e suas
amarras, é manifestamente muito difícil de voltarmos ao primitivismo
existencial, e assim desfazer as amarras, nós e laços que ora nos prendem ou
envolvem. Primeiro, pela existência de fatores preponderantes à nossa
existência, como os inúmeros compromissos que nos envolvem e nos levam a
atender, em tempo rápido e necessário, como obter maiores ganhos, destinados a
suprir as demandas pessoais de trabalho, de lazer, de imagem e outras tantas
que nos fazem derrogar o slogan “mais ócio menos negócio”, em favor de um viver
social construído e oferecido por toda a gama de fatores de merchandising, a
que estamos atados em “nós” impossíveis de serem desatados, sem a perda, muitas
vezes, de conquistas que nos custaram os olhos da cara, e das quais não nos
podemos livrar, impunemente.
Ademais, como abraçar o
ócio, em meio a tantas injunções sociais e particulares, impingidas
autoritariamente contra nós, fazendo-nos, até intuitivamente a portarmo-nos
como “robôs”, ou “clowns”, tantas são as demandas e exigências viscerais que
nos engolem ou nos fazem engolir a vida cotidiana, agora não mais apenas em
grandes metrópoles mas também em cidades circunvizinhas ou não?
Isso sem consideramos as
ofertas, que nos impigem diuturnamente pelos meios de comunicação, ou por
estabelecimentos bancários, concursos, propaganda e que tais, para usufruirmos
de uma vida sempre sonhada, mas nunca, ou raramente, alcançada., a não ser com
esforços de maquinações de toda ordem, aceitas por pais e inculcada aos filhos,
como obrigação rotineira, desde muito cedo como herança de “ouro de tolo” como
muito bem proclamou Raul Seixas em sua música do mesmo nome.
E mais, os índices em
baixa, a inflação em alta, a moeda capengando e o desemprego se avolumando dia
a dia, a aflição noturna e os pesadelos crescem e o suor noturno aumenta,
mormente quando se pensa o que e como fazer para não perder o emprego, o pouco
de sono tranquilo e o resquício de ócio, que porventura possa restar, nessa situação
tão aflitiva, de durabilidade ou piora a perder de vista, põe em sobressalto um
viver que se vislumbrava duradouro, e sem percalços, ainda que delineado por
algumas dívidas a serem liquidadas com o correr do tempo, do vento a favor sem
menosprezar - claro - a proteção e ajuda divina, continuamente invocadas.
Essa materialidade feroz
faz do homem um ser acuado, desalojado de seus valores, que se recusa a formar
uma visão de mundo e nela interagir, pois não pretende se enfronhar em encontrar
verdades, mas apenas acontecimentos, situações e principalmente, como ele,
homens com um olhar assustado sobre a realidade em que vive e atua.
Quer nos parecer,
portanto, que o ócio ora preconizado veio em má hora, ou tardiamente, a nossa
vagabundagem foi arrastada quiçá, para outras plagas, onde subsistem em sonho,
fantasia ou ficção, tal como usufruíram os personagens de “O Mágico de Oz”, de
L Frank Baum (1856 -1919) ou os de Alice no País das Maravilhas ou dos Espelhos
de Lewis Carroll (1832-1898), e tantos outros personagens à nossa disposição,
para usufruir condignamente, em nosso favor, o privilégio do “Ó-C-I-O”, (criativo
ou não) que não seja apenas: aquele de “tirar caca do nariz”, ou fazer caretas basbaques,
para rir de si mesmo, ou ainda bocejar e espreguiçar, ou lavar a alma em
impropérios mil, quando dentro do carro, protegido por Insulfilm, durante um
congestionamento infindo e habitual, depois de reuniões de diretoria, almoço de
negócio, colocação do expediente em dia, e dar palestra a um público, para
merchandising de produtos da firma. Esse minúsculo espaço de ócio, serve para mostrar,
- até que enfim! - então, a nossa face inteiriça, primitiva e verdadeira, sem
os subterfúgios usuais, de quaisquer maquiagens impostas socialmente, ou de
cobranças familiares, bem assim, de dever de ofício ou, ainda salvar-se de imprecações,
de caras feias, chiste, ou menosprezo, num raro momento de ócio não
programático, numa paz de bebê enlevado pelo sono.
De todo modo, valer-se do
ócio, como forma de alcançar, talvez, um substrato para atingir-se “a saúde” tem
seu quinhão de validade nada desprezível, e, como tal, não deve ser subestimado,
apesar de todos os fatores negativos existentes em pauta.
Mário Inglesi
O MÉTODO CIENTÍFICO DE GOETHE II
Por: Clara Oliva Antoniazzi - clara.antoniazzi@gmail.com / http://sejamosseres.blogspot.com.br
Continuação de: Ciência Goetheana
Esse capítulo introduz Goethe como cientista através
de seu método de pesquisa. No começo explicarei a ciência de Goethe baseando-me
nos seus próprios textos, em seguida elucidarei sua metodologia através da
interpretação de Nigel Hoffman.
“Você precisa confiar
em seus sentidos:
eles não te mostrarão
nada falso
se sua inteligência
se mantiver acordada.
Mantenha seus olhos puros
e abertos e lépidos,
e mova-se com passos
certos, porém flexíveis,
por entre campos de
um mundo ricamente dotado”
(Goethe, citado em
Nayldler, 1996: 29)
Johann Wolfgang von Goethe nasceu na Alemanha dia 28
de agosto de 1749. É considerado um dos maiores escritores da literatura
moderna, sendo conhecido mundialmente por seu memorável trabalho literário Fausto. Por isso é possível
surpreender-se ao saber que Goethe também era um cientista e que ‘considerou
suas pesquisas científicas seu feito mais significativo’ (Miller, 2009: xvi). Dentre
suas realizações na área da ciência encontramos: a descoberta do osso intermaxilar
no ser humano (o que ajudou a preparar a base para a teoria moderna da
evolução); uma investigação original sobre o processo de crescimento das
plantas; foi o primeiro a usar o termo morfologia
e o primeiro a compreender corretamente a resposta fisiológica normal às cores
(Miller, 1995: xi). Seu trabalho dentro da ciência inclui as áreas de morfologia,
botânica, zoologia, geologia, meteorologia e física, onde ele realizou seu
trabalho científico mais substancial, Teoria
das Cores em 1810 (Miller, 2009: xvi), no qual ele oferece uma alternativa
à visão Newtoniana.
Com o avanço tecnológico e o uso de instrumentos mais
precisos e sensíveis do que o corpo humano no estudo dos fenômenos, a abordagem
mecanicista e reducionista ganha espaço quanto ao modo de apreensão do mundo. Goethe
batalhou contra a maneira pela qual a ciência estava sendo feita na sua época. Ele
não concordava com o pensamento newtoniano mecanicista, com a forma
reducionista de quebrar um sistema em partes e estudá-las cada vez mais
profundamente esquecendo o todo e ignorando o contexto maior. Goethe ‘podia ver
o benefício da observação cada vez mais precisa através do uso de instrumentos,
[mas] ele acreditava que a menos que essas observações fossem reconectadas com
a relação viva humana com a natureza, elas iriam levar ao entendimento
unilateral distorcido do mundo’ (Naydler, 1996: 28). Para Goethe partes e todo
deveriam ser estudas em relação uma com a outra. Ele escreveu: ‘Mentes fracas
cometem o erro mental de pular diretamente do particular para o geral quando,
na verdade, o geral pode ser encontrado somente dentro do todo’ (Goethe, 1995:
307). Ele estava olhando para as partes para encontrar o todo e para o todo
para encontrar as partes; ele estava vendo um todo múltiplo ao invés de partes
diferentes que formariam um tudo ou um todo que poderia ser dividido em partes.
Henri Bortoft, em seu livro “The Wholeness of Nature: Goethe’s Way of Science”
(A Totalidade da Natureza: A Ciência de Goethe), escreve maravilhosamente sobre
a relação entre as partes e o todo:
“O
risco da emergência é tal que o todo depende das partes para poder aparecer e
as partes dependem desse aparecimento do todo para serem significantes ao invés
de superficiais. O reconhecimento da parte só é possível através do ‘surgimento’
do todo” (Bortoft, 1996: 11).
A relação entre partes e todo é um processo dinâmico. Isso
é exatamente o que interessava Goethe: a dinâmica dos sistemas vivos, como o
processo no qual organismos vivos surgem. Mas, como Goethe percebia essa
relação das partes com o todo?
A metodologia científica de Goethe, a qual ele chamou
de empirismo delicado, era baseada em
observação empírica. Ele observava os fenômenos deixando-os falar por eles
mesmos, ignorando o preconceito. Seu objetivo era encontrar o que ele chamava
de Fenômenos Arquetípicos (Ürphänomen), os fenômenos originais, conceitos ou
ideias que podem ser captados através da percepção intuitiva. Goethe descreveu
os fenômenos arquetípicos como ‘ideais, reais, simbólicos, idênticos. Ideais
como o conhecimento máximo que podemos ter; reais como aquilo que podemos saber;
simbólicos porque incluem todas as instâncias; idênticos a todas as instâncias’
(Goethe, 1995: 303). Para ele o limite da nossa percepção é quando reconhecemos
os fenômenos arquetípicos. Ele acreditava que é um erro tentarmos ir além dos
Ürphänomen já que a partir deles é possível tornar tudo o que foi observado
inteligível.
‘O máximo que alguém pode alcançar é maravilhar-se.
Quando o Fenômeno Arquetípico faz alguém maravilhar-se, que esse alguém fique
contente. Não é possível permitir-se uma experiência além disso, e buscar algo
mais é fútil. Aqui está o limite. Mas é regra as pessoas não se satisfazerem
com a contemplação de um Fenômeno Arquetípico. Elas acreditam que deve ter algo
além. Elas são como crianças que, ao olhar para um espelho, viram-no para ver o
que é que tem do outro lado’ (Goethe, 1996: 109).
Goethe considerava os Fenômenos Arquetípicos divinos, núcleo
essencial que faz o fenômeno ‘ser o que é e o que se torna’ (Seamon, 1998: 4). Ele
acreditava que a maneira de captar os Ürphänomem é vivê-los em uma experiência
pura, tentando racionalizar o menos possível, mas ao mesmo tempo não esquecendo
a teoria. Ele queria entender fato e teoria juntamente. ‘A meta suprema é:
captar que tudo no domínio dos fatos já está lá. O azul do céu nos mostra a lei
básica da cromática. Permita-nos não buscar algo além dos fenômenos – eles
próprios são a teoria’ (Goethe, 1995: 307).
Em seu artigo “Goethe, Nature and Phenomenology”
(Goethe, Natureza e Fenomenologia), David Seamons argumenta que a metodologia
goethiana era incomum para sua época, uma vez que focava em observações
qualitativas, sendo por isso seus estudos rejeitados pela ciência convencional.
Com a atual articulação filosófica da fenomenologia, seus escritos podem ser melhor
compreendidos (Seamons, 1998: 1). Fenomenologia é a ciência que estuda
fenômenos com foco na percepção humana: seu intuito central é ‘a própria coisa’
como diria Edmund Husserl, seu idealizador. Em outras palavras, ‘fenomenologia
é a exploração e descrição de fenômenos, onde os fenômenos são coisas ou
experiências da forma que os seres humanos as experienciam’ (Seamons, 1998: 2).
A metodologia científica goethiana, o empirismo delicado, era baseada no uso
dos sentidos humanos e na percepção intuitiva, os quais ele considerava os maiores
instrumentos científicos. Essa abordagem é encontrada em suas palavras:
“Meu
pensamento não é separado de objetos; os aspectos do objeto, a percepção do
objeto fluem em direção ao meu pensamento e estão totalmente permeados por ele;
[...] minha percepção é ela própria um pensamento, e meu pensamento uma
percepção. [...] O ser humano conhece ele mesmo somente na medida em que
conhece o mundo; ele percebe o mundo apenas nele mesmo, e ele mesmo apenas no
mundo” (Goethe, 1995: 39).
Nesse sentido é possível dizer que Goethe era um
cientista fenomenológico antigo. Portanto, Goethe estava vendo a relação entre
partes e todo através de uma abordagem fenomenológica do mundo a fim de
entender os Fenômenos Arquetípicos. Ele estava usando diferentes formas de
conhecimento, mudando do pensamento racional para percepção intuitiva, unindo o
intelectual com o imaginativo, o científico com o artístico, ele estava
misturando modos mentais para poder entender melhor a Natureza.
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