Como ser saudável ou Como não ter doenças? Adequando a linguagem à saúde
A forma como uma pessoa
pensa é fator determinante sobre a forma como a vida da pessoa acontece. A
importância do observador sobre os fenômenos cotidianos é cada vez mais
notada, até mesmo pela ciência, a caçula dentre suas irmãs, a arte e a
espiritualidade; variações do bom, belo e verdadeiro cujo desgaste temporal
renomeou.
Assim, pensar a vida na perspectiva da doença é viver imerso em uma
nuvem de possibilidades de doenças em um contínuo agir em função de atitudes de
prevenção (se previne de doenças) e de cura (só se cura de doenças). Não nos
prevenimos da saúde e muito menos nos curamos da saúde, mas o mais interessante
é a pouca atenção que temos dado à forma de pensar a saúde em relação à ênfase
que temos dado ao pensar e equacionar a doença.
Pensar a vida na
perspectiva da saúde é viver imerso em outo tipo de nuvem de possibilidades. Se
no caminho da doença as palavras fundamentos são: medo e culpa, no caminho da
saúde são: coragem e responsabilidade. Desse modo, urge que assimilemos que a
vida alinhada à saúde diz respeito ao agir contínuo em função de atitudes de
preservação (se preserva a saúde) e de promoção (se promove a saúde). Note-se
que as palavras relacionadas à doença se deformam quando colocadas ao lado da
saúde! Por exemplo, conhece alguém que se cura da saúde? Conhece alguém que se
previna da saúde? Conhece alguém que promova doença? Conhece alguém que
preserve doença? Vale insistir que assim como se pensa se é, e que as rotinas
decorrentes do viver sem tempo dificultam a percepção das palavras que
fundamentam nossa forma de viver. Quando tiver um tempinho pense a esse
respeito, por amor.
Como venho propondo,
somos seres humanos e não teres humanos! Portanto, deixo a vocês a pergunta
sobre o vídeo que inicia esta reflexão: qual entre os dois temas abaixo seria
mais adequado ao mesmo?
1- Como não ter doenças
em uma sociedade doente
2- Como ser saudável em
uma sociedade doente
Bem, caro amigo
desconhecido, se escolheu a opção 2 prossiga a leitura; caso tenha escolhido a
opção 1, peço a bondade e gentileza de recomeçar a leitura além de aceitar
minhas desculpas pela inabilidade em ser mais claro quanto a obviedade da
insólita realidade...
Eventualmente a
proposta 1 poderia ser amorosamente corrigida para:
1- Como não ter doenças
em uma sociedade de ontem
Mas, guardemo-nos dos
riscos relativos aos que apreciam Diógenes e prossigamos da forma mais
cartesiana possível.
Cronos é o
"antigo" deus grego relacionado ao tempo, renomeado Saturno quando os
romanos assumem o bastão - entregue o bastão e conhecerás o vilão. É da
divindade Cronos que surgem os conceitos semânticos cronômetro, cronológico e
crônico. Todas, diferentes realidades do tempo. De fato, quando as coisas se
perdem no tempo cronológico do dia a dia, existe o risco de se tornarem
crônicas. Em outras palavras, quando não cuidamos de algo que o tempo
cronológico apresenta como oportunidade, se cria um processo de cronificação a
se arrastar indefinidamente no tempo (Cronos).
As doenças crônicas são
assim, os vícios são assim, ações que se repetem e acabam determinando
alterações no caráter do ser, que não se sabe ao fim de onde surgiram.
Diabetes, obesidade e hipertensão costumam visitar o hospedeiro em decorrência
de hábitos relativos ao comportamento alimentar, além de contextos sedentários
no viver. Fossem cultivados hábitos alimentares aliados a atividade física
regular e muito se alcançaria quanto a minimizar estas entidades.
Isso tudo parece muito
óbvio, mas nem tanto ao ponto de saber que a imaginação e o pensamento também
beneficiam o viver quando visitados com atenção. Afinal, como são os
pensamentos e a imaginação da pessoa com uma doença crônica? Ela se refere à
doença como minha? Minha dor, minha gastrite, minha enxaqueca, meu diabetes?
Como pensa alguém, assim ele é. Abaixo Rohden fala um pouco a esse respeito:
Não se negue a
existência dos processos crônicos, mas busquemos uma causa crônica ou um hábito
arraigado no comportamento daquele "doente" e talvez nos
surpreendamos com o campo analógico entre um dado comportamento da pessoa e a
forma pela qual a pessoa adoeceu. Aliás, caso não tenha notado, ser doente é o
mesmo que ser do ente, ou pertencer a alguma entidade (doença, diabetes, cefaleia,
hepatite), ou seja, pertencer à doença! Conforme as músicas explicam na perspectiva
da arte, muito maior que o alcance da capacidade intelectual:
Mas cuidemos ao enveredar por esses caminhos e Alberto Caeiro deixou bem
avisado que "Pensar é estar doente dos olhos". Ora, talvez quisesse
dizer que pensar é solitário caminhar em que a ousadia de fechar os olhos ao
senso comum, a moral de nossos dias, seja passo fundamental ao encontro de
novas soluções para os antigos problemas. Quem sabe pensar seja, se assim for,
um olhar para dentro? E se for, nada melhor que fechar os olhos e ver aonde
chegamos...
Cada vez mais se
percebe que saúde e doença não são conceitos antagônicos como por muito tempo
se pensou, senão que a segunda seja parte integrante da primeira. Um alarme que
soa! Desconfio então das pessoas que chegam a procura de medicação ou solução
para seu problema sem qualquer reflexão quanto a como vem vivendo - nas
palavras do sambista: "deixa a vida me levar, vida leva eu". Ainda
pior quando o terapeuta sugere a reflexão e a pessoa se irrita, aí sim começa
ficar claro o porquê da dor que se torna crônica ou o porquê daquela
determinada parte do corpo estar degenerando (Leia sobre isso no livro a Doença
como Caminho).
As pessoas estão
"ganhando" cada vez mais anos de vida e com isso muitos estão apenas
ficando mais velhos enquanto alguns estão ficando mais sábios. Os dois, se me
permitem, são excludentes pois ao encontrar um sábio logo se reconhece uma
criança enquanto o velho é quando a criança saiu e não voltou. Caminhamos para
sábios ou nas palavras de um professor da faculdade: "Somos apenas seres
que carregam o cadáver nas costas"?
Isso tudo para dizer
que a pessoa que coloca a responsabilidade de sua melhora no médico responde ao
tratamento de forma muito diversa daquela pessoa que se responsabiliza pelo
estado em que se encontra. Repito, se responsabiliza! Se responsabilizar é o
oposto de sentir culpa. E quem ainda acha que culpa e responsabilidade são a
mesma coisa é porque certamente não leu o capítulo culpa x responsabilidade do
livro "Saúde é Consciência", está lá!
Nossa sociedade
funciona por meio de sistemas, um conceito matemático para solucionar problemas
que se apresenta como um modo de rotina operacional a impedir as pessoas sem
tempo (Cronos) de pensar (estar doente dos olhos) e consequentemente de responsabilizarem-se pelas suas escolhas. Nossas escolhas são nossas escolas,
lembrar sempre.
É devido a esses
sistemas que nos acostumamos e aos quais facilmente nos adaptamos, que a
sociedade cada vez mais pode e está sendo controlada por máquinas, robôs e até
mesmo outros sistemas conhecidos por sistemas operacionais. Um sistema funciona
a partir de pressupostos e portanto, em uma sociedade, a partir de estatísticas
comportamentais – IBOPE, pesquisas eleitorais, níveis de audiência e similares.
Ao se equacionar comportamentos e reflexos econômicos dos mesmos, torna-se
possível automatizar soluções. Claro que a história seria outra se nossos
antepassados tivessem optado por parar de procriar, parar de votar, parar de
pagar impostos e parar de comprar e de consumir, a utopia dos descrentes no
mundo material e seus prazeres e decorrências. Outrossim, a utopia de Thomas More também seria
alternativa louvável, aliás, que belo livro...
Surge, no entanto uma
forte tensão, intimamente relacionada ao tema saúde-doença, que diz respeito a
dois comportamentos humanos às diversas oportunidades que a vida oferece como
arena evolutiva: o comportamento compulsório (automático – não requer
criatividade) e o comportamento emancipatório (requer criatividade e esforço).
O comportamento compulsório é o da “boiada” que não tem tempo, são reféns de
Cronos e portanto predispostos às doenças crônicas, da depressão, passando pela
hipertensão e chegando à insônia. O comportamento emancipatório é aquele ao
qual Caeiro se refere acima, o de quem ficou “doente dos olhos”. E é sobre esse
fato que Exupéry se refere no Pequeno Príncipe quando nos recorda que o
essencial é invisível aos olhos e que só se vê bem com o coração. A coragem, o
cor agir, o agir com o coração é a essência do comportamento emancipatório, sem
o que Cronos escraviza e toma conta de tudo. E quando Cronos toma conta, aí é
tomar remédio para o resto da vida, pois a própria vida é o resto do que
não foi.
Isso fica claro no
diálogo do cruzado com a morte, belamente retratado no “Sétimo Selo” de Bergman
e acessível no link abaixo:
A alternativa, que
encontramos no comportamento emancipatório, oferece as benesses a quem
verdadeiramente mergulha na busca de sentido pessoal em cada encontro, em cada
processo, sempre em busca do autodesenvolvimento, à custa da “doença dos olhos”,
pois as aparências enganam e conforme Hipócrates, aquele pelo qual os médicos
juram quando se formam:
“A vida é curta, a arte é
longa, a ocasião fugidia, a experiência enganadora, o julgamento difícil. É
preciso que se faça não apenas o que convém, mas também com que o doente, os
assistentes e as coisas exteriores concorram para isso.”
Concluo disso tudo que:
de todas as doenças crônicas a mais grave é a falta de amor.
Parabéns Ricardo por mais esta oportunidade de podermos interagir com o "Eu Saudável" constituinte de nossa "existência"...
ResponderExcluirOlá Vera!
ExcluirAgradeço o carinho!
Tudo de bom e até breve!
Obrigada . Suas palavras são verdadeiras e sábias.
ResponderExcluirTambém acredito que o amor é o caminho mais digno da cura do corpo e da alma. Confesso: como é difícil viver sem às vezes ou sempre cair nas armadilhas do tempo,ou da sociedade.
O mundo caminha para o mais fácil, mais rápido e a humanidade se perde esquecendo o essencial; o viver, o sentir o amar...
Oi Luisa!
ExcluirQue venha então o amor e quando vier, que o reconheçamos.
Um abraço
Ricardo, muito interessante a reflexao. Me apequei em um pedacinho: "Fossem cultivados habitos alimentares adequados e atividade fisica regular...." Precisariamos de algum tempo para isto!! Ora, nosso tempo esta tomado para atividades dedicadas a acumulacao de bens que nos impussemos serem importantes para nossa jornada. Criamos filhos e achamo-los incompetentes para o caminhar da vida e... tempo utilizado para a acumulacao. Veja como e que voce nos pede tempo para: "Fossem cultivados habitos alimentares adequados e atividade fisica regular...."
ResponderExcluirCaro/a amigo/a desconhecido/a,
ExcluirTemos todo tempo disse o poeta músico: https://youtu.be/N5rbOMb6w9E
Essa coisa de não ter tempo custo a entender. Talvez estejamos nos dedicando de forma equivocada ao que importa pouco ao ser, pode ser?
De qualquer modo, penso que Leandro Karnal nos auxilia no link abaixo com propriedade cardíaca a visitar o porquê da falta de tempo e sentido, a partir de Hamlet:
https://youtu.be/we5phUZ5cGE
Os poetas, médicos da saúde, falam da importância do tempo:
https://youtu.be/CTJdrLuNVzQ
https://youtu.be/jHTcEj_Am2E
Se houver de continuares sem tempo sugiro que leias;
Momo e Senhor do Tempo - Michael Ende
Allan Lightman - Sonhos de Einstein
Desejo que o tempo lhe seja generoso.
Ricardo, o "caro amigo desconhecido" precisa de um tempo para conversar contigo. Que tal um almoço as quartas no vegetariano?
ExcluirCaro amigo desconhecido,
ExcluirSe for vegetariano então, é só dizer a quarta e o restaurante!
Sugiro antes façamos juntos a oração ao tempo...
Até breve
Querido Dr. Ricardo.
ResponderExcluirQue delícia o seu texto e vídeo!
Sábias palavras, amigo, pena ser acessível a tão poucos. Mas, como vc diz: "servir bem para servir sempre", melhor uma pequena padaria de qualidade do que uma produção enorme, cheia de aditivos com nomes ininteligíveis. Ganhando um, já é ganho, não é mesmo?
Beijo
Modesta
É isso!
ExcluirEntão, voltemos ao forninho a observar o trabalho do calor das ideias a raiar.
Beijo
Ricardo
Caro Dr. Ricardo,
ResponderExcluirSua palestra foi maravilhosa! Gratidao, gratidao!
Patricia
Olá Patrícia!
ExcluirNossa palestra! Sem Você sem palestra!
Gratidão, gratidão