Por: Mário Inglesi - Correspondente Internacional do Blog Saúde é Consciência
Ilustrações e Vídeos - Ricardo Leme - Auxiliar Técnico
Ilustrações e Vídeos - Ricardo Leme - Auxiliar Técnico
Dr. Ricardo,
Pelo visto já dispensaram o médico e seu receituário de
medicamentos, em troca de um novo produto milagroso a “banana” em voga no
merchandising no país, através da Internet – coisa fina, hein? – para a eficácia
de uma saúde realmente plena e satisfatória para todos os males.
Em
princípio, é lógico que não se tenha nada contra comer bananas. Apenas,
preferencialmente, é bom que se diga logo, é de melhor gosto ser mais chegado à
maçã. Talvez por já ser levado em conta – desde tempos remotos – como fruto
proibido e, assim, de maior apelo. Afinal, segundo seu slogan promocional,
também ainda em vigência, “com uma maçã por dia, do doutor te livrarias”.
Mas, é
preciso cuidado – e muito –, quando a porca torce o rabo, não há como não
apelar para o médico, esse que – coitado – já foi tachado, em priscas eras, de
“curandeiro”, isto é, provedor de cura. Seja através de ervas ditas medicinais,
seja por beberagem de sucos de tais ervas ou ainda por meio de ventosas e mais
ventosas, ou ainda, pelas sangrias, quando os chamávamos de meu médico, médico
de família, pessoa de confiança e de respeitabilidade, que juntamente com o
pároco local, os parentes do doente erigiam inflamadas rezas, ditas em voz
alta, para aliviar o mal estar do paciente a caminho da eternidade, sem dores
ou pecados. E, hoje, vulgarmente o chamamos de “doutor”, dado principalmente
aos seus estudos de especialista em áreas que fizeram do paciente um ser retalhado
em partes, e, sujeito a exames laboratoriais inclusive de prevenção de doenças.
Parte
disso tudo, felizmente, são coisas de passado remoto.
Hoje
tudo mudou! Ou até se aprimorou, Convenhamos – na maioria dos casos – graças ao
– sempre presente – merchandising - que promove o seu boom – frutas milagrosas,
como a banana, ou a maçã, e quem sabe, em algum dia, não muito distante, a
jaca, a jabuticaba, o figo da índia e tantas e tantas outras frutas, dar-se-á,
por si sós, o milagre da cura ou da vida saudável, ou mesmo da eterna
juventude.
Por
enquanto, o que se sabe, é que quem realmente obteve frutos de enriquecimento e
poderio – não de saúde – mas de dinheiro no bolso, foi a United Fruit Company,
a maior produtora e exportadora de bananas, cuja força tamanha colaborou na
derrubada de governos de diversos países da América.
Para
nós, brasileiros, a sorte foi em sentido bem mais eficiente, pois a banana
ganhou ares de comestível saudável, sobremesa imperdível, denominada banana
Split (banana com sorvete e calda de chocolate) e fama lúdica e cultural.
Afinal,
podemos nos orgulhar
Yes,
nós temos bananas
Bananas
pra dar e vender
Banana
menina
Tem
vitamina
Banana
engorda e faz crescer
. . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Pro
mundo inteiro
Homem
ou mulher!
Bananas
para quem quiser.
(Composição
de Alberto Ribeiro e João de Barro (Braguinha)).
Ou,
ainda, nos vangloriar de sermos premiados com a bela “A Filha da Chiquita
Bacana, de Caetano Veloso, como símbolo da ‘Women’s Liberation Front”
Esse
orgulho, todavia. Já teve seus dias de esconso e vergonha. Afinal, já fomos
pejorativamente tachados de “república das bananas”, onde, macacos, nos
consideraram, – só sabíamos comer bananas e pisar, em escorregadelas
monumentais em suas cascas, com gritos e urros doridos, de “arreda capeta!”.
Ou, ainda, com face ruborizada, por vergonha da queda, nem sempre respeitada,
mas plena de malícia e risos incontidos.
Por sua
vez chamar alguém de banana era julgá-lo pessoa fraca, de índole banal. Não se
conhecia ainda e não se comia espinafre, em lata, tal como preconizava o célebre
Popeye. Como também proceder ao “bras d’honneur (braço de honra) gesto feio
para desqualificar o outrem oferecendo-lhe uma banana. Embora em moda, não era
de bom tom. Demonstrava deseducação.
Entretanto,
como tudo muda, essa visão felizmente sofreu mudanças benéficas. A banana
brasileira aflorou em grande e majestoso estilo nos EUA com a nossa embaixatriz
do samba, Carmem Miranda, a “pequena notável”. Tornando-se produto admirado e
de boa acolhida na mesa do brasileiro ou estrangeiro que por aqui aportasse.
Daí pra
frente, passamos a ser não mais os reis da cocada preta, e sim, da banana, com
todo seu arsenal de iguarias e feitios, esbanjando ainda símbolos de virilidade
com uma sexualidade nunca dantes por nós imaginada.
Hoje, com
tudo que nos cerca, a banana virou excelente mercadoria, item de comercialização
e lucro, resguardado felizmente todo o seu arsenal picaresco e satírico, que
sempre a coroou, e cujo merchandising ainda hoje não soube valorizar,
apegando-se apenas à enganosa propaganda de efeito apenas mercadológico e
financeiro.
A saúde,
nesse contexto frutífero todo, é mero item chamativo, que serve de escudo para
a ganância mercadológica, a exemplo do que ocorre com o recente merchandising
da água que dita regras para sua ingestão em prol da saúde, mas ao mesmo tempo
lhe dá o nome de fantasia do produto a ser consumido.
Portanto,
é muita ingenuidade supor que mera degustação de uma fruta, ainda que
diariamente, ou de um produto, ainda que natural, possa pautar a excelência de
uma vida saudável, cuja satisfação – é urgente ter consciência – deve-se a um
conjunto de fatores existenciais e vivenciais, que compreende desde o ar que
respiramos à vida que levamos, ao trabalho social que empreendemos, à vida
cultural que abraçamos, à sexualidade que precisamos satisfazer, às liberdades
de pensamento e sua difusão, indispensáveis ao atendimento dos embates sociais
que travamos em benefício do desenvolvimento de uma democracia auspiciosa para
todos, onde aquelas liberdades, e outras mais, em seu conjunto, tenham
prioridade plena de existência e permanência, no enfrentamento real e adequado
dos mistérios da vida.
“A
gente não quer só comida
A gente
quer comida
Diversão
e arte
. . . .
. . . . . . . . . . . . . . .
A gente
não quer só comida
A gente
quer a vida
Como a
vida quer.
. . . .
. . . . . . . . . . . . . . . .
A gente
não quer só comer
A gente
quer comer
E quer
fazer amor
A gente
não quer só correr
A gente
quer prazer
Pra
aliviar a dor
. . . .
. . . . . . . . . . . . . .
Desejo,
necessidade, vontade
Necessidade,
desejo, eh!
Necessidade,
vontade, eh!
Necessidade…
(letra
e música “Titãs”)
Afora
isso, tudo se resume a falácias para enganação cuja prioridade se resume no
atendimento a interesses pessoais ou corporativos sejam de que natureza for.
Saúde
compreende a satisfação de muitos e muitos quesitos, sejam eles pessoais,
sociais, de ordem existencial e natural, inclusive quanto à saúde mental, muito
pouco atendida e por demais negligenciada.
É
preciso sempre ter em mente o deveras combativo slogan: “Saúde é Consciência”.
Abraços
não embananados, mas de gulodice e água na boca por um doce de banana
caramelado.
Mário
Inglesi
Que beleza de texto. Passeia pelo imaginário que se criou em torno da fruta, sem desconsiderar o fato de a coitada ser grande vítima do oportunismo das grandes corporações e, até mesmo, usada como instrumento que subestima a inteligência humana, quando alçada como "cura" para praticamente todos os males. Parabéns, Mario. Excelente mais uma vez!
ResponderExcluirQue bananada ...
ResponderExcluirOlá, sabem o nome científico da Banana??
ResponderExcluir"Musa x paradisiaca" (família Musaceae), que é prima não muito próxima do Gengibre (Zingiber officinalis) e da Ave do Paraíso (Strelitzia).
Até a nossa Maçã (Malus pumila) não tem um nome tão significativo...
Não sei quem deu o nome, mas acredito que é mais um tema interessante para meditação...
Abs,
Genial aula de nutrição!
ResponderExcluirPensava que a banana era só um pouco de carboidratos, vitaminas A, B1, B2, cálcio, magnésio, selênio, fósforo e potássio!
Agora eu sei que não é possível pensar saúde sem pensar nas "bananas" e suas repúblicas!
A questão dos "bananas" não é brincadeira e de fato é questão de segurança ou saúde pública, veja-se a obra infanto-juvenil do escritor estadunidense Jeff Kinney - "Diário de um banana" - em: http://youtu.be/qktR3o5-ZF8
Só me resta agradecer a preciosa reflexão sempre a tempo, uma pérola em saúde pública!