Texto de autoria: Mário Inglesi
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O Hino da Independência do Brasil foi criado logo após o 7 de
setembro. A letra do hino é de Evaristo da Veiga e a música de D. Pedro I.
HINO DA
INDEPENDÊNCIA
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Já podeis,
da Pátria filhos,
Ver contente
a mãe gentil;
Já raiou a
liberdade
No horizonte
do Brasil.
Brava gente
brasileira!
Longe vá...
temor servil:
Ou ficar a
pátria livre
Ou morrer
pelo Brasil.
Os grilhões
que nos forjava
Da perfídia
astuto ardil...
Houve mão
mais poderosa:
Zombou deles
o Brasil.
Brava gente
brasileira!
Longe vá...
temor servil:
Ou ficar a
pátria livre
Ou morrer
pelo Brasil.
Não temais
ímpias falanges,
Que
apresentam face hostil;
Vossos
peitos, vossos braços
São muralhas
do Brasil.
Brava gente
brasileira!
Longe vá...
temor servil:
Ou ficar a
pátria livre
Ou morrer
pelo Brasil.
Parabéns, ó
brasileiro,
Já, com
garbo varonil,
Do universo
entre as nações
Resplandece
a do Brasil.
Brava gente
brasileira!
Longe vá...
temor servil:
Ou ficar a
pátria livre
Ou morrer
pelo Brasil.
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Glossário:
- Brava:
valente
- Servil:
relativo a servo, subserviente
- Grilhões:
corrente de metal
- Perfídia:
deslealdade, traição
- Astuto:
habilidoso para fazer o mal
- Ardil:
artimanha, estratégia
- Ímpias:
cruéis
- Falanges:
tropa, legião
- Hostil:
inimigo
- Garbo:
elegância, porte
- Varonil:
viril, esforçado
Em razão da historiografia pública brasileira, no seu afã
incontido de perpetuar como mitologia os principais fatos, e personagens que
configuraram desde o início a imagem do Brasil colônia, inverdades vêm consolidando
o imaginário do brasileiro, sobre a sua própria história.
A começar, pelo questionamento inviável de que se o Brasil não
fosse colonizado pelos portugueses, ele seria outro, bem melhor, sem as mazelas
que preencheram sua vida pública e privada.
Ora, isso é apenas quimera, Colonização é colonização, não há
melhor, e mais ainda em seu processo e efeitos.
No caso do Brasil, é certo que usaram e abusaram de nossas
riquezas naturais, exaurindo-as de maneira drástica em proveito próprio.
Mas, em contrapartida, talvez, nos legaram um bem maior: a língua
portuguesa, cuja existência eleva nosso patrimônio cultural a alturas inimagináveis,
como exemplificam “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, a obra romanesca de
Machado de Assis, e a admirável criação de “Grande Sertão: Veredas”, de
Guimarães Rosa e muitos e muitos outros, em que se destacam poetas, cordelistas
e cantadores da mais nobre estirpe brasileira.
E não é só, nos ofereceu patrimonialmente a miscigenação, quando
esta era considerada até mesmo pela ciência, como degradação e falência humana,
e como tal, empobrecedora física e moral do brasileiro, tornando-o um ser
inferior.
Com ela aflorou, em caráter permanente e de bom grado, a nossa
sexualidade, como, aliás, bem ponderou Gilberto Freyre, em sua “Casa Grande
& Senzala”, mostrando que a Senzala era a extensão da Casa Grande, como ainda
fez aflorar usos e costumes, donde resultou toda a grande culinária brasileira
de doces e salgados, o nosso ar folgazão, nosso destravar linguístico, nosso
sem “papas na língua”, nosso misticismo e nosso “macunaísmo”, como bem
configurou Mário de Andrade, em sua obra máxima.
Com a vinda da “Família Real” para o Brasil, em 1808, inicia-se o
apregoar de imagens, cujo único objetivo era denegrir seus integrantes.
Assim, D. João passou a ser “o rei glutão”, nada mais que isso,
quando seus feitos foram inestimáveis para a consolidação da permanência una do
território, como para a consagração eficaz, de D. Pedro I, como imperador do
Brasil, e para a eficaz “abertura dos portos”, assim como para a instalação da
imprensa no país.
D. Pedro I, por sua vez, tem sido sempre alvo de chacotas por seu
“grito” do Ipiranga: Independência ou Morte, além de ser visto como mulherengo
atroz: um verdadeiro “rabo de saias”.
Ora, tendo se casado por imposição e conveniência, com Dona Maria
Leopoldina, da Áustria, a primeira imperatriz do Brasil, D. Pedro, como era natural, à época, pulava o muro, com amantes sem
número, embora sempre junto da mulher que o favoreceu até mesmo na proclamação
da Independência.
Mas se isso moralmente poderia causar certa espécie aos moralistas
de plantão, é preciso convir que com D. Pedro houve, no Brasil, liberdade de
Imprensa, a proclamação da Independência, a elaboração e vigência da 1a
Constituição Brasileira, outorgada em 1824, sempre tendo ao seu lado o então
famoso José Bonifácio, ministro “Patriarca da Independência” do país.
Outro mito comum, sempre repetido, é que com o famoso grito de
“Independência ou Morte”, no caso, não houve nem independência nem morte. Isto é
pura falácia, pois houve sim muitas mortes não só antes como depois, com todas
as injunções de portugueses e brasileiros no Brasil e do governo português,
configuradas na Guerra Cisplatina e na Confederação do Equador e outras lutas internas.
Parece que todo mundo nasce sabendo, o aprendizado foi pras
cucuias, vive-se de mitos e lendas pela vida afora.
Portanto, vamos bradar e comemorar a Independência do Brasil, sem alarde,
sem palanques e palanqueiros usuais, mas com muito afã de aprendiz. Só assim
nossa mente aprenderá a ser solerte e terá o respeito que merece, afastando
para bem longe a inidônea tarefa de “Maria vai com as outras”.
Mário Inglesi
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