sábado, 22 de outubro de 2011

SOBRE LOUCOS, SANTOS E AMIGOS

POR MÁRIO INGLESI 
Sobre o texto: http://saudeconsciencia.blogspot.com/2011/09/loucos-e-santos.html


Oscar Wilde, ao desenvolver sob o titulo Loucos e Santos suas noções de amigos e amizades, sua escolha, motivação, criação e desenvoltura, dispôs ter amigo (s) para conhecer-se pelo avesso, uma vez que “normalidade” para ele, manifestava-se uma ilusão “imbecil e estéril”

De fato, por tudo de mal e pior que lhe aconteceu: preso, julgado, dilacerado em sua individualidade, escorraçado socialmente, em decorrência de um moralismo inócuo e injustificável, mesmo para a época, restou-lhe, entretanto, a consciência de que “somente aquilo que é bom, e pelo bem concebido, é capaz de se alimentar. (De Profundis). Isto marca bem o cerne de amizade e amigos encontrado em Wilde, em sua subjetividade.
Mas, amizade e amigos têm também em seu bojo elementos mais corriqueiros e não menos importantes e profundos.
A começar, a amizade e amigos nascem do ocasional, do fortuito: um olhar, uma palavra, em encontro ocasional, em lugares os mais inusitados, Não exige teste de DNA, não tem genes especiais para subsistir, não se prende a contratos, e a obrigações. Não tem hora para nascer ou acabar, floresce sem limites, mas sempre no convívio e na vazão à intimidade. Não se alicerça em discursos palavrosos inúteis. Ao contrário, prende-se muito ao silêncio, à alegria, ao companheirismo, à disposição de trocas de informações, e divisão de experiências.
O lugar propício a seu desenvolver é, sem dúvida, o compartilhar no futebol - ah, sempre ele, o futebol! Nos estádios ou na TV, nas “peladas” de rua, na mesa de um bar, ou na de qualquer boteco ou de bilhar em meio a cervejas, piadas, e confidências amorosas, muita risada, muita alegria, e muita lavação de roupa suja, mas – claro!  -em meio a muita molecagem, chistes e disparates, apostas de virilidade, mostras de macheza e demonstração de vantagens sempre em alta como nos versos do “desafio”, abaixo. Tudo isto isento de qualquer pretensão ao politicamente correto:

Sou Balbino, cantador
Violeiro respeitado
Em disputa de peleja
Eu sou mestre renomado.
Tenho a força do tufão
Tenho o giro do tornado,
A ciência do sabido
E a coragem do soldado.

Eu me chamo Marcolino
De Balbino sou irmão.
Só que tenho mais juízo
E mais imaginação.

Sabe-tudo não me assusta
Nem tornado, nem tufão.
Eu derrubo dez soldados
Com o dedinho de uma mão.

A Lenda do Violeiro Invejoso, (sic) de Fábio Sombra, ed. Rocco, 2005
Em meio a tudo isso, vigora também, na precisão da vida, a seriedade, a sobriedade, o ombro amigo, a camaradagem, no esforço pelo bem gostar

Vai ter uma festa
Que eu vou dançar
Até o sapato pedir pra parar.
Aí eu paro, tiro o sapato
E danço o resto da vida

Chacal (RJ) poema Rápido e Rasteiro, do poeta Chacal, extraído do Livro Poesia Jovem Anos 70, ed. Abril 1982.

Mas, mais imprescindível que tudo, a desconcentração, o prazer de se estar junto, tecendo rabiscos de vida com fios de amizade na teia do “descompromisso” da alegria de viver.

Nós somos quatro rapazes
Dentro de uma casa vazia.

Nós somos quatro amigos íntimos
Dentro de uma casa vazia.

Nós fomos ver quatro irmãos
Morando na casa vazia.

Meu Deus! Si uma saia entrasse
A casa toda se encheria!

Mas era uma vez quatro amigos.

Moda dos Quatro Rapazes, de Mário de Andrade, em Poesias Completas – Círculo do Livro S/A – 1976, pág. 149.

É preciso não deixar de lembrar que a amizade e os amigos deram vazão a trocas infindas de cartas – ao tempo em que as cartas eram de próprio punho e assinadas com caligrafia personalizada, entre os nossos mais famosos poetas (Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, e muitos outros), formando com elas uma torrente de informações, sobre a obra, de cada um, suas angústias, suas confidências, dúvidas e posicionamento político e social.
Sem amizade, sem amigos, - que tristeza!  Que aflição!- tem-se uma mensagem sem resposta, como:

CONTO EM LETRAS GARRAFAIS

Todo o dia esvaziava
uma garrafa, colocava
dentro sua mensagem, e a
entregava ao mar.
Nunca recebeu resposta.
Mas tornou-se alcoólatra

Marina Colasanti, em Contos de amor rasgados, ed. Rocco, 1986, pág.95

Finalmente, com a sua enorme carga de humanidade, a amizade, e os amigos, sejam estes loucos ou santos, ou ambos, contribuem, sem dúvida, como entes especiais, à plenitude da saúde humana e, como tais - é de se crer - devem figurar com destaque na listagem de Consciência e Saúde.
Isto posto Dr. Ricardo, um brinde em sua homenagem, como promotor de amigos e de saúde,

Mário Inglesi 07/10/2011

2 comentários:

  1. Boa noite Dr. Ricardo.
    Cada dia mais te admiro mais. Que amigos maravilhosos que tem, é uma felicidade.
    Sobre loucos, santos e amigos , acredito que somos um pouco de cada; loucos quando perdemos/ousamos a ser nós mesmos sem nos prender a padrões doentio imposto, santo quando nos compadecemos com o outro, e amigos somos todos, mesmo sem saber. E quando queremos nos aproximar então as coincidências acontecem. Creio que existe um olhar, as almas se encontram e o ser se revela.
    Que bom ser amiga, que ótimo ter amigos.

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  2. Ser amigo louco ou santo, não importa, pois o que vale a pena é a "amizade";ou seja compartilhar, comunicar, lembrar sempre, por mais que o desencontro tenha durado, desejar somente o bem ao amigo, fazer tudo e nada esperar de reciprocidade.O que interessa é o verdadeiro e puro "Amor Platônico", ou seja é o AMOR que existe entre os irmãos, os filhos, os pais,os esposos, e Deus, tudo de uma forma pura e transcendente.Jesus há quase 2000 mil anos nos ensinou " amai-vos uns aos outros, como a vós mesmos"!Um grande abraço aos queridos amigos Ricardo e Mário.

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