Continuação de: O ANJO EM MIM
O
materialista em sua coragem escolheu um mundo e um modo de viver divorciados de
tudo o que não pode ser apreendido pelos cinco sentidos físicos. Como
consequência, entendeu ser o humano, do ponto de vista vida ou biológico, o
mais elevado entre os seres. Escolheu ainda que seu reino, o reino humano,
unido aos reinos animal, vegetal e mineral, compreende tudo o que possa ser
objeto de estudo ou ainda as únicas instâncias que merecem a alcunha de
realidade.
Para
os demais, permeáveis ao incognoscível, em que momento da evolução humana nos
desconectamos dos anjos? Em que momento voltaremos a nos conectar?
Algumas
histórias de anjos carecem ser lidas como: “O anjo está perto” de Chopra, o conto
“Do que os homens precisam” de Tolstói (Contos Populares – década de 1880) e o
inigualável Guimarães Rosa (Primeiras Estórias) no conto “Um moço muito branco”.
Cada um, a seu modo, compartilha seus olhares concernentes a esse reino
suprafísico imediato ao humano. Cada um abre uma janela de
possibilidades de relação com essa classe de seres pouco compreendidos e pouco
visitados, ao menos daqui pra lá...
Chopra
aproxima a ideia de anjo à da luz. Na medida em que o personagem se permite
entrar em relação com ela (Luz), a mesma se metamorfoseia em um ser antropomórfico
disponível ao diálogo.
– Eu sei que nós chamamos
vocês de anjos, mas o que você é para si próprio? Há algum nome que você use?
– Na verdade, não. Quando
vejo a mim sou apenas uma janela. Se quiser pode olhar através de mim. Sou
transparente. É assim que sou para Deus e, portanto para mim.
O
curioso em Chopra é a ideia da presença do anjo causar um aumento da
consciência das pessoas que estão em proximidade a ele; consciência que na
maior parte das vezes se dissipa com o afastamento do anjo, dado que o humano
não teria desenvolvido em si a força de sustentação para aquela consciência.
Isso se assemelha à experiência humana de entendermos algo quando alguém que
sabe àquele respeito nos explica, mas que se esvai de nossa compreensão quando
da ausência daquela pessoa sabidona.
Em
Tolstói, Mikhail cumpre contrariado uma missão e perde as asas pela
inconformidade com o que lhe foi solicitado. Aprende com o humano sobre algo
que no reino que habitava não era possível aprender. Traz em si três perguntas
a serem respondidas: “O que existe nos homens? O que não é dado aos homens? Do
que vivem os homens?”. Sua luz aumenta conforme aprende, é silencioso e hábil
além de capaz de enxergar além das aparências. Reconquista as asas ao encontrar
as respostas e compreender que o mal que acreditou ter feito visava um bem
maior, impossível de compreender então.
Finalmente,
Guimarães pinta com palavras a estória de um moço muito branco, que aparece,
não se lembra, visto para ele só haver o presente, e em todos que se aproxima
desperta aquilo que mais carecem. Desaparece como apareceu em meio a fenômenos
extremos da natureza sob chuva, raios e trovões...
Estórias
anedóticas para uns, realidade para outros, estão contadas aí para quem quiser
ler. Se fosse você eu leria, para não dizer depois que não sabia...
No caso do
assunto interessar, vale ler também: de Matthew Fox e Rupert Sheldrake “A física
dos anjos”, uma visão científica e filosófica dos seres celestiais; de Rudolf
Steiner “O anjo em nosso corpo astral” e “A Ciência Oculta”; de Max Heindel
“Conceito Rosacruz do Cosmos”; de Diether Lauenstein “As Leis Biográficas à Luz
da Biblia”; de Mônica Bonfiglio “A magia dos anjos cabalísticos” e de Wim
Wenders o filme “Asas do desejo”. Finalmente, para uma compreensão mais lúcida é
imprescindível a leitura das lâminas 14 (A Temperança) e 15 (O Diabo) na obra
magistral “Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô” escrita por autor
anônimo pela editora Paulus.
Ao ignorarmos a presença
dos anjos fecham-se as portas conscientes aos demais reinos, ou seja: arcanjos,
principados, potestades, virtudes, dominações, tronos, querubins, serafins,
terafins e xeofins; síntese que integra a “antena” cósmica do humano.
Se você nasceu sem asas
não faça nada para impedi-las de crescer.
Tomo a liberdade de acrescentar uma sugestão de leitura, Diálogos com o anjo.
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