POR MÁRIO INGLESI
Continuação de:
Dr. Ricardo,
É realmente, fantástico o
que já criamos e estamos em vias de criar em setores os mais díspares, ou como
quis acontecer Lewis Carrol, fazendo Alice se aventurar na descoberta de um
mundo inquietante e onírico, sem precedentes, em “Alice no País das Maravilhas”.
Assim como também os arcanos do invisível, com cujos fios diretores de cinema,
teceram zumbis, o computador de Odisseia no Espaço, ou os fotógrafos que
buscaram nas fotos, teias da mediunidade, em tempos idos da arte fotográfica. Ou,
ainda, criaram “Comidas” com cores e paladares os mais salutares e edificantes.
Afinal, a vida como
repetia exaustivamente o poeta Waly Salomão ”A Vida é Sonho”. Ninguém nos
impedirá de sonhar, de fantasiar nossa realidade, seja lá em que grau e altura
forem. Primeiro como andarilhos, depois singrando os mares e rios “nunca dantes
navegados”, alçando voos aos céus, em aviões cada vez mais velozes, a passeio
ou a trabalho, ou cruzando ruas, avenidas, Estados, alçando ou derrubando
fronteiras em carros de tipos, tamanhos e luxo, os mais diversos, o ser humano,
sempre ele, insaciável em sua curiosidade, em sua visão de futuro, viaja rumo
ao espaço em busca de conhecer de perto outros planetas, em naves espaciais,
pilotáveis ou, doravante, dirigidas daqui da Terra. Depois como criador de
línguas, em prol da comunicação, bem como de escritos, onde sobeja a
diversidade de suas faces, seus anseios, seus sentimentos e dores, numa
catártica missão de firmar sua identidade e a profundeza de seu ser, isolando
quaisquer compromissos ou temor de não ser nada.
Ei-lo, portanto, - Senhor!
Perdoai - como um outro Deus, - o do Futuro - plasmado em Criador e Criatura,
num gigantismo sem precedentes, marcando com seus feitos a História da
Humanidade, por meio dos mais diversos suportes e das mais belas configurações,
ainda que, sob aspectos de insanidade, gritos, horrores, dramas de toda ordem
inclusive familiares, tragédias, comédias, urros de raiva ou silêncios de angústia
ou esplendor, fazendo-nos ver como, mesmo em nossa - tão propalada pequenez -,
ainda somos de importância vital para o porvir nosso e do planeta.
Ser humano não se manifesta
apenas uma dádiva, mas, isto sim, num trabalho perseverante e diário,
consciente, mas também de idealizações de sonhos e fantasias a nos fazer elevar
a píncaros de criação nunca dantes vislumbrados. Afinal a vida não é tão bela
quanto propalam propagandisticamente. Ela necessita de suportes que nos façam
compreendê-la e fazê-la melhor para digeri-la.
Por tudo que já fez, de
gerações a gerações até os nossos dias e evidentemente ainda o fará, nos mais
diversos, múltiplos e infinitos setores da atividade humana, o “Homem” merece,
sem dúvida, figurar no Olimpo, a morada dos Deuses, como o mitólogo “Deus”, da
construção, da destruição, da desconstrução e, principalmente, pelo seu alto e
desenvolto grau de criatividade, na afirmação de sua contínua individualidade e
universalidade.
Ainda mais, por que, com
seus segredos escondidos, tirados da manga do paletó e sua vara de condão, como
um mágico, de requinte e trabalho excepcionais, não há como exortá-lo continuadamente
seja em prosa ou verso, talvez, sempre com os olhos voltados no poema que o
identifica: “Pós tudo”:
“Quis
Mudar Tudo
Mudei Tudo
Agora Pós Tudo
Extudo
(sic)
Mudo”.
Augusto de Campos (SP
-1931-) “Pós tudo” in “Folhetim”, 27.01.85.
E, se preciso for, para
mostrar firmeza, cantarolar “Começar de Novo”, de Ivan Lins:
“Começar de novo e contar
comigo
Vai valer a pena ter
amanhecido
Ter me rebelado, ter me
debatido
Ter me machucado, ter
sobrevivido
Ter virado o barco, ter
me socorrido”
É lógico que haverá
sempre quem diga: e seus lados negativos – que aliás não são poucos e muito
menos desprezíveis? Diremos, em coro e em alto e bom som, não há por que
desmerecer, tudo faz parte de sua formação e mais ainda, de seu aprendizado,
não só difícil, mas também incongruente.
Poder-se-ia dizer, como o
poeta Olavo Bilac (1865-1928)
“Não és Bom, nem és mau: és
triste e humano”
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . .
“Residem juntamente no
teu peito
Um demônio que ruge e um
deus que chora”
Ou, sob a identificação
prevista por Friedrich Nietzsche, (1833-1900) in Ecce Homo declarar,
enfaticamente:
“Sim, sei de onde venho!
Insatisfeito com a
labareda
Ardo para me consumir.
Aquilo em que toco
torna-se luz,
Carvão aquilo que
abandono:
Sou certamente labareda.”
Ainda, para ornar a grandeza
do homem basta lembrar, as palavras de Albert Camus (1913-1960)”
“Sim, o homem é o seu
próprio fim. E é o seu único fim”
Se assim é, melhor e mais
profícuo é viver intensamente e :
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . .
“brilhar para sempre
brilhar como um farol
brilhar com brilho eterno
gente é pra brilhar,
que tudo mais vai pro
inferno
este é meu slogan
e do sol”
“Verão na Datcha”, Wladimir
Maiakovski (1893-1930), tradução: Augusto de Campos.
Se nada do que aqui está
dito, servirá para lhe secar as lágrimas, procure ao redor algo que lhe
satisfaça, quiçá um:
Consolo
O mundo está cheio de
horrores
de tragédias e terrores
e gente de má fuça.
Mas de vez em quando
aparece
cada tenista russa!
(Veríssimo, in “Poesia
numa hora dessas”)
Caso nem isso lhe aplaque
todo a sua negatividade sobre todo esse enaltecer, procure ensimesmar-se,
esquecendo todos os possíveis tipos de epítetos, alcunhas, palavrões ou
palavrórios que lhe enredam sorrateiramente, nesse seu viver acabrunhante e
mesquinho e vá acampar, se assim o quiser, em outra freguesia, sim, se houver,
e lhe aprouver, não esquecendo obviamente, dos adeuses de praxe, sem queixumes ou
vitupérios que possivelmente enredaram–lhe a vida vazia de sentido, isenta de
contrapartida dialogal com quem quer que seja. Plena, portanto tão só, de
duvidoso egoísmo.
Nesse fuzuê de
sentimentos e feitos nefastos, procure em si, uma réstea de claridade que ainda
possa vislumbrar, recorrendo talvez ao poeta Manoel de Barros no poema “Tratado
Geral das Grandezas do Ínfimo”
“Para mim poderoso é
aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas)”.
Ou então diga, com Paulo Leminski:
“Não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino”
Se nada disso lhe for
possível, o que fazer senão, - meu caro -, quedar-se enfadado e enfartado:
“Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida –
barrigudo
grisalho
e feliz por ter um quarto
… de manhã”
Charles Bukowski (1920-1994)
in “Poema nos meus 43 anos,” (trad. Jorge Wanderley).
Por toda essa amostragem
poética, neste único setor o da poesia, podemos, inquestionavelmente, elevar o
Homem ao trono que lhe oferecemos: de um ícone à altura de “Deus”.
É verdade que o Ser Humano se manifesta também em seu sonho e fantasia pois é ali que ele amplia sua faculdade de ser, de existir, de mostrar a que veio. Talvez a fantasia seja a verdadeira realidade de um humano pois ela vem autêntica e pura lá de seus confins mais íntimos.
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