Aplicando a Ciência Goetheana em Busca de Equilíbrio -
(APPLYING GOETHEAN SCIENCE IN A SEARCH FOR BALANCE) - Plymouth University - Schumacher
College - MSc in Holistic Science Sep. 2010 – Aug. 2011 - Supervisor: Alan Dyer
Fragmento
de Tese - Capítulo I:
Por: Clara Oliva Antoniazzi - clara.antoniazzi@gmail.com / http://sejamosseres.blogspot.com.br
Por: Clara Oliva Antoniazzi - clara.antoniazzi@gmail.com / http://sejamosseres.blogspot.com.br
Um Paradigma Social
Este capítulo introduzirá a ideia de Fritjof
Capra de um paradigma social no qual a sociedade ocidental está imersa, e dará
uma explicação sucinta de sua origem. Além disso, apresentará a proposta de um
desequilíbrio social causado pelo paradigma em questão, desequilíbrio esse que
pode nos levar para uma crise mundial ou até mesmo nos induzir para um colapso
global. No final desta seção uma maneira de mudar esse paradigma é sugerida e
será desenvolvida no desenrolar dos próximos capítulos.
Sou uma amante da Natureza e sempre foi muito
doloroso para mim perceber o quanto o ser humano é agressivo e rude,
destruindo-a como se não fizéssemos parte dela, como se ela não estivesse viva,
como se a Natureza não fosse sagrada. Essa atitude para com a Natureza, a qual
eu acredito ser trazida por um desequilíbrio na consciência humana, é baseada
no que Fritjof Capra descreve em seu livro “The Web of Life” (A Teia da Vida)
como algo que nos leva para um momento da história onde enfrentamos muitos
problemas.
Segundo Capra, a sociedade ocidental é
fundamentada em um paradigma social que tem influenciado o mundo todo. Algumas
ideias que constituem esse paradigma são: ‘o entendimento do universo como um
sistema mecânico composto por blocos; o entendimento do corpo como uma máquina;
o entendimento de vida em sociedade como uma competitiva batalha pela
existência; a crença em um progresso material ilimitado a ser alcançado por
meio do crescimento econômico e tecnológico; e – a última, mas não a menos
importante – a crença de que uma sociedade na qual a mulher é sempre colocada abaixo do homem é uma crença que segue as
leis básicas da natureza’ (Capra, 1997: 6).
Explorando bem essas cinco ideias de Capra, é
possível alcançar um entendimento profundo desse paradigma social proposto por
ele e o qual ele define ‘como uma constelação de conceitos, valores, percepções
e práticas de uma certa comunidade, que formam uma visão particular da
realidade, a qual será a base para a maneira como essa comunidade irá se
organizar’ (Capra, 1997: 5/6).
O primeiro ponto - a visão mecanicista do
universo – foi trazido pela Revolução Científica, a qual é ‘associada aos nomes
Copérnico, Galileo, Descartes, Bacon e Newton’ (Capra, 1997: 19), e foi
profundamente incorporado na sociedade ocidental. No dicionário online Free
Dictionary uma máquina em termos da engenharia é definida como ‘um conjunto de
componentes interconectados organizados para transmitir e modificar energia de
maneira a desempenhar um trabalho útil’. Nesses termos, quando alguém vê o
planeta como uma máquina esse alguém se sente no domínio podendo controlar o
mundo da maneira que achar conveniente. Esse sentimento de poder sobre o
planeta traz a sensação de posse, o que transforma o mundo em um mero produto para
ser usado e consumido pelos seres humanos. Nós precisamos sim consumir o
planeta para sobreviver. Precisamos de comida, água, abrigo, mas o excesso de
consumo por luxo pode se transformar em um grande problema. Satish Kumar, em
seu livro “Earth Pilgrim” (Peregrino da Terra), propõe belas metáforas para
duas maneiras pelas quais podemos nos relacionar com o planeta. Ele diz que
‘podemos agir como turistas e olhar para Terra como uma fonte de bens de
consumo e serviços para o nosso uso, prazer e diversão; ou podemos agir como
peregrinos da Terra e tratar o planeta com reverência e gratidão’ (Kumar, 2009:12)
reconhecendo a generosidade desse planeta maravilhoso do qual fazemos parte. O primeiro
caminho, ser turista na Terra, quando aplicado à situação atual do mundo, se torna
um grande problema: somos muitas pessoas usando muito das fontes do planeta, as
quais não são infinitas mesmo! Estamos consumindo o mundo de uma maneira insustentável.
Em outras palavras, estamos usando as fontes do planeta de tal maneira que a
chance de as futuras gerações usá-las está diminuindo ou até mesmo se extinguindo.
O segundo ponto – o entendimento do corpo como
uma máquina – também foi trazido pela Revolução Científica, mais
especificamente pela divisão cartesiana de mente e matéria, entre outros
aspectos da história da civilização humana que afetaram profundamente a maneira
como lidamos com nossos corpos hoje como, por exemplo, a influência do
Cristianismo e Catolicismo na sociedade ocidental durante os passados 2000
anos, mas não entrarei em detalhes sobre isso nessa pesquisa. As consequências trazidas
pelo entendimento do corpo como uma máquina são similares com as descritas no
paragrafo acima. Seres humanos começaram a entender seus corpos como uma
máquina controlada pelo cérebro, o qual se transformou o símbolo para a mente
racional. Pensando assim, o cérebro é considerado o órgão mais importante e é colocado
no topo da hierarquia das partes do corpo. Esse foco na mente racional nos levou
a uma sociedade que acredita que a única forma de conhecimento, a única maneira
de provar a verdade é através da razão deixando sentido, sensação e intuição abaixo
na hierarquia das formas de conhecimento.
O terceiro ponto - o entendimento de vida em
sociedade como uma competitiva batalha pela existência – está inserido em todas
as camadas da cultura ocidental, das relações pessoais, passando pelas relações
sociais, até as relações internacionais globais. Martim Nowak, em seu livro
“Super Cooperators” (Super Cooperadores), menciona o insight de Charles Darwin
sobre a competição estar no coração da evolução como parte essencial para a
batalha pela existência, onde organismos são obrigados a competir entre si para
conseguirem se alimentar e se reproduzir. Essa atitude pode ser percebida em
toda natureza viva, desde seres unicelulares até grandes mamíferos. Na
sociedade humana essa batalha não só é vista entre pessoas, mas também entre
corpos corporativos. ‘A batalha pela existência continua apressadamente, de competições
entre supermercados para abaixar preços até rivalidades assassinas entre
empresas de Wall Street’ (Nowak, 2011: xii). Nowak divide a batalha pelo
sucesso, a qual chamarei de competição, em duas: a competição honesta, onde o
melhor é dado para se alcançar um objetivo; e a competição negra, onde o
interesse pessoal é o condutor, onde não se pode ajudar um competidor e onde se
acaba trapaceando e tornando a vida do rival mais difícil. Eu acredito que
nossa sociedade está fundamentada na segunda forma de competição, o que está
nos conduzindo para um grande perigo de entrarmos em colapso. Por outro lado
existe cooperação, um outro tipo de batalha pela existência encontrado em
‘criaturas de [grande] persuasão e níveis complexidade’ (Nowak, 2011: xiii). Fungos,
por exemplo, vivem em uma relação de cooperação com a floresta. ‘A partir de
plantas mortas os fungos transformam carbono, hidrogênio, nitrogênio, fósforo e
minerais em nutrientes para plantas vivas, insetos e outros organismos que
dividem aquele habitat’ (Stamets, 2005: 19). Portanto, não só competição é
importante para a sobrevivência, mas também a cooperação. Martim Nowak intitula
os seres humanos como os ‘supremos cooperadores’ e afirma que nossa grande
habilidade de ‘cooperar é uma das principais
razões que nos permite sobreviver em todos os ecossistemas da
Terra’ (Nowak, 2011:xiv). A sociedade ocidental está embebida em competição e
está deixando de lado a cooperação. O altruísmo está sendo eclipsado pelo
egoísmo, mas ‘a interação entre indivíduos altruístas e egoístas é vital para a
cooperação humana’ (Fehr & Fishbacker, 2003), o que Nowak acredita ser a
única solução para que a humanidade não se extinga, considerando os grandes
problemas globais que estamos encarando como por exemplo mudança climática,
superpopulação e esgotamento de recursos.
O quarto ponto - a crença em um progresso
material ilimitado a ser alcançado por meio do crescimento econômico e
tecnológico – foi introduzido com o evento da Revolução Industrial, o qual
causou um grande efeito na economia e cultura influenciando quase todos os
aspectos do cotidiano, primeiro na Europa e depois se espalhando para as outras
partes do mundo. Máquinas substituíram o trabalho manual aceleraram a produção
e trazendo a possibilidade de se produzir mais de uma só vez com um custo baixo
por unidade: produção em massa. Portanto, países industrializados tinham mais
produtos para vender, mais dinheiro circulando e consequentemente a economia
crescia. É por isso que países industrializados são considerados mais
desenvolvidos do que países de economia agropecuária, que por sua vez fazem de
tudo para se tornar industrializados para serem considerados desenvolvidos. Em
países industrializados e de economia agropecuária, pessoas com mais dinheiros
tem a possibilidades de comprar mais coisas e por isso são consideradas mais
ricas que as outras. ‘Quanto mais se tem melhor se é’ esse é o mantra. Existe
uma hierarquia criada entre a sociedade global onde aqueles que têm maior
conhecimento tecnológico, mais dinheiro, mais coisas são colocados numa posição
acima dos outros. Essa ideia de ‘quanto mais se tem melhor se é’ nos levou para
um vício em consumir: o consumismo. Por vício em consumir quero dizer consumo
de vários tipos desde coisas materiais como recursos naturais, comida, produtos
industrializados, até coisas imateriais como ideias, conhecimento, arte. Esse vício
está causando problemas para indivíduos e para o planeta, por exemplo: lixo não-biodegradável
espalhado por todo planeta, esgotamento de recursos naturais, doenças físicas e
psicológicas como a obesidade.
O quinto ponto - a crença de que uma sociedade
na qual a mulher é sempre colocada abaixo do homem é uma crença que segue as
leis básicas da natureza – levou o ser humano para uma sociedade patriarcal
onde a energia feminina foi negada e a energia masculina colocada em um
pedestal. Por energia feminina quero dizer não o gênero, mas sim o lado do ser
humano mais intuitivo, artístico, passivo, holístico, simbólico, e por energia
masculina quero dizer o lado mais lógico, analítico, ativo, linear do ser humano.
No livro “A Doença Como Caminho”, Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlken
explicam que o cérebro humano tem dois lados, dois hemisférios: o hemisfério
esquerdo é o que traduz o mundo de um modo lógico, analítico, racional, e pode
ser associado ao masculino ou Yang no Taoísmo, uma filosofia oriental; o hemisfério
direito é o que percebe o mundo na sua totalidade, com todo a sua inter-relação
e complexidade, e pode ser associado ao feminino ou ao Yin taoísta. Eles afirmam
que a abordagem tradicional da ciência é imperfeita uma vez que está considerando
apenas o lado esquerdo do cérebro (Dethlefsen e Dahlken, 2007: 29). Em outras
palavras, a ciência tradicional foca na mente racional excluindo a abordagem
holística, ela valoriza o masculino sobre o feminino. Thomas Berry escreve em
seu artigo “Patriarchy: A New Interpretation of History” (Patriarcado: Uma Nova
Interpretação da História) que se olharmos para o processo histórico ocidental,
podemos encontrar quatro organizações patriarcais que estiveram no controle por
séculos na história ocidental. Essas quatro organizações são: os impérios
clássicos, a organização eclesiástica, as nações-estado, e as corporações modernas’
(Berry, 1988: 145/146). Berry afirma que ‘essas quatro organizações são exclusivamente
dominadas por homens’ e ‘progressivamente se tornaram virulentas em seu poder
destrutivo’, o que tem causado a devastação de todo sistema básico de vida da
Terra (Berry, 1988: 145/146). Berry propõe uma divisão na história da civilização
ocidental em três momentos principais: o matricêntrico, onde os aspectos femininos
do ser humano são valorizados; o patricêntrico, onde os aspectos masculinos do
ser humano são valorizados; e o omnicêntrico, onde os aspectos ecológicos do
ser humano são valorizados. Ele afirma que existe uma urgência para alcançar o
estado omnicêntrico.
Uma ilustração desse período é um movimento chamado
“ecofeminismo” que ‘vê a dominação patriarcal das mulheres pelos homens como um
protótipo de todas as dominações e exploração nas várias formas hierárquica,
militarista, capitalista e industrialista’ apontando ‘que a exploração da natureza,
em particular, andou de mãos dadas com a das mulheres, que foram identificadas
com a natureza por eras’ (Capra, 1997: 9).
Essas ideias de Capra me fizeram acreditar ainda
mais que nossa atitude destrutiva para com a Natureza tem a ver com o quanto
nossa sociedade é desequilibrada hoje em dia, com como estamos nos baseando em
conceitos que não se encaixam mais em nossa época. Estamos realmente doentes!
Olhando mais uma vez para os cinco pontos
descritos acima é possível perceber que todos eles trazem uma noção de
desequilíbrio. O entendimento mecanicista do universo, por exemplo, considera
que tudo é composto por partes que quando somadas formam um todo. ‘Essa maneira
de ver o mundo coloca o todo num lugar secundário às partes, porque ela
considera que o todo vem depois das partes. Ela sugere uma sequência linear:
primeiro as partes, depois o todo’ (Bortoft, 1996: 9).
Mas o todo e as partes se relacionam de modo não
linear. As partes não vêm antes do todo ou o todo antes das partes. Eles
existem simultaneamente, profundamente conectados, juntos num uno. Bortoft diz:
‘[se] separarmos parte e todo em dois, sugerimos uma alternativa de mover-nos
em uma única direção, ou da parte para o todo ou do todo para a parte. Se
partirmos dessa posição, devemos ao menos insistir em mover-nos para ambas as
direções de uma só vez, de modo que não tenhamos nem o todo resultante como
soma e nem o todo transcendental como autoridade dominante, mas sim o todo
emergente que aparece dentro de suas partes’ (Bortoft, 1996: 11).
Portanto, o entendimento mecanicista do mundo
traz um desequilíbrio entre partes e todo reduzindo o objeto em questão em
partes que podem ser observadas separadamente desconsiderando a
interconectividade do todo, e, além disso, dá maior importância para as partes
ou para o todo ao invés de levar a atenção para as conexões. Em outras
palavras, essa abordagem vê o mundo como blocos que podem ser estudados
separadamente sem a necessidade de compreender a influência exercida entre
eles. Uma abordagem holística do mundo traria um entendimento muito mais vasto sobre
o objeto em questão, analisando-o através de diferentes formas de conhecimento
e percebendo-o como partes dentro de um todo e um todo dentro de partes
simultaneamente, trazendo assim de volta o equilíbrio perdido.
Entender o corpo como uma máquina levou a
sociedade ocidental a focar na mente racional, como dito acima. Além disso, no
campo da medicina médicos acreditam que quando uma parte/órgão está
quebrado/doente ela/ele precisa ser consertada/curado mas na realidade nosso
corpo é um todo no qual as partes estão intimamente conectadas. Por exemplo,
gastrite pode ser um sintoma e não a doença em si que pode ser estresse. Nesse
caso combater a gastrite não vai curar a doença real e isso é exatamente o que
a sociedade ocidental está fazendo: combatendo os sintomas e deixando a doença
sem cura. O que quero dizer aqui é que o corpo não está sendo visto como um
todo que deve ser compreendido em sua totalidade, mas sim como partes que podem
ser observadas separadamente como se pudessem atuar sozinhas.
Além disso, o cérebro é supervalorizado em
relação às outras partes do corpo o que acaba trazendo uma maior importância
para a racionalidade, a qual é considerada a única forma de conhecimento na
nossa sociedade ocidental. Em seu livro “Mito e Transformação”, Joseph Campbell
explica as quatro funções da psique humana apresentadas por C. G. Jung, que as
dividiu em dois pares. O primeiro par é razão e emoção, e está relacionado à
maneira como se analisa o mundo. O segundo par é sensação e intuição, e está
relacionado à maneira como se experiencia o mundo. Para
Jung cada pessoa tem uma dessas funções psicológicas mais
desenvolvida que as outras, por isso existe a necessidade de trabalhar as
funções menos desenvolvidas para que se tenha uma psique saudável. Portanto,
quando focamos em uma única forma de conhecimento – ou função psicológica –
geramos um desequilíbrio nas quatro formas de conhecimento: razão, emoção,
sensação e intuição.
Quando a competição é considerada o único meio de
sobrevivência tudo que se utiliza de cooperação para sobreviver é ignorado como
se não existisse. Mas na realidade competição e cooperação são ambas essenciais
para a existência como explicado acima. Então, se a sociedade está rejeitando a
cooperação ela está abandonando parte de sua habilidade natural para
sobreviver, o que diminui sua resiliência. Consequentemente, o desequilíbrio
entre competição e cooperação pode nos levar para uma crise de sobrevivência.
O desequilíbrio que eu vejo no quarto ponto
apresentado por Capra está relacionado com ação no tempo, com movimento. Existe
um desequilíbrio entre tempo e custo de produção de bens de consumo, e tempo e
custo do consumo em si desses produtos. A industrialização acelerou a produção,
o que acelerou o consumo, o que acelerou a vontade individual, o que por sua
vez causou o consumismo. A sociedade está muito apressada! Existe uma
necessidade de desacelerar, de recuperar o nosso ritmo natural.
Quando é dito que vivemos em uma sociedade
patriarcal o desequilíbrio fica bastante claro: a sociedade se organiza baseada
na ideia de que o homem é considerado a figura de autoridade primordial
rejeitando todo e qualquer aspecto relacionado com mulheres. Em outras
palavras, a sociedade é baseada no arquétipo masculino e afasta o feminino.
Pactuando com o que Jean Shinoda Bolen diz em seu livro “Os Deuses e o Homem”,
parece que a sociedade patriarcal não está afetando apenas a vida das mulheres,
mas também a dos homens já que o número de homens infelizes está aumentando. Eu
acredito que todo indivíduo tem ambos os arquétipos influenciando seu modo de
viver. Por isso, o desequilíbrio entre os arquétipos feminino e masculino está
afetando a vida de homens e mulheres de uma forma nociva devido a essa valorização
do modelo masculino.
O que eu acabei de apresentar pode trazer a
questão do dualismo a tona já que falo sobre o desequilíbrio entre dois polos;
pode despertar a ideia de que o mundo é dual. No livro “A Doença Como Caminho”,
Throwald e Rüdiger apresentam a hipótese de que essa maneira de perceber o
mundo como sendo dual, essa polaridade da consciência humana é devida à
anatomia do nosso cérebro, o qual é composto por dois hemisférios cujas funções
são diferentes, como explicado anteriormente. Fritjof Capra, por sua vez,
afirma que esta abordagem dualista origina-se da divisão cartesiana entre
matéria e mente formulada através da filosofia de René Descartes no século
XVII, a qual ele acredita ter tido grande influência sobre o paradigma social ocidental
discutido acima (Capra, 2011). O que eu quero esclarecer é que essa abordagem
não implica que o mundo é dual ele próprio e que iremos perceber o mundo como
dual necessariamente. Eu acredito que é possível entender o mundo como uma
unidade, como uno, como um todo e é exatamente esse o grande desafio a nossa
sociedade ocidental, onde tudo é visto separadamente como partes que quando agrupadas
formam algo útil.
Em seu livro “O Tao da Física”, Fritjof Capra
explica que a divisão cartesiana e a abordagem mecanicista do mundo ajudaram
com sucesso o desenvolvimento da tecnologia e da física clássica, mas por outro
lado vêm apresentando consequências desfavoráveis para nossa civilização como,
por exemplo, o paradigma social exposto acima. O que ele considera fascinante é
ver que a física moderna, a qual se originou da divisão cartesiana e da
abordagem mecanicista, superou essa fragmentação e está nos trazendo de volta
para a ideia de unidade expressada na Grécia antiga e em filosofias orientais
como Hinduísmo, Budismo e Taoísmo. Mas a sociedade ainda está presa no
paradigma social apresentado por Capra, o qual mostra alguns aspectos importantes
da humanidade moderna e a fragmentação da sociedade ocidental, além de
estar nos conduzindo para uma crise e, eventualmente, para um colapso global.
Minha vontade de uma consciência de totalidade
tem crescido a cada dia e sinto a urgência de unificar as polaridades da
consciência no mundo ocidental e em lugares onde a sociedade ocidental exerce
forte influência de modo que, se essa abordagem de totalidade existia, hoje
está desaparecendo. Desse desejo a ideia de iniciar uma comunidade ecológica
surgiu dentro de mim, um lugar onde as pessoas possam viver em paz com a
Natureza, com eles mesmos, um lugar onde a totalidade pode ser alcançada no
dia-a-dia. Essa ideia será explorada em maiores detalhes mais adiante neste
texto.
Johan Wolfgang von Goethe, o famoso escritor
romântico, era também um cientista e vejo seu jeito de fazer ciência como um
método holístico, o qual pode ajudar pessoas a ampliar seu jeito de entender o
mundo. Em outras palavras, o método holístico de Goethe pode ser um grande
instrumento para trazer de volta o equilíbrio à consciência humana. Por
holístico quero dizer algo que englobe as quatro formas de conhecimento propostas
pela mandala de Jung: razão, emoção, sensação e intuição. A ciência de Goethe
está vindo à tona e sendo mais reconhecida e usada depois de aproximadamente
três séculos. Acredito que isso é devido às novas descobertas da física
moderna, apontadas por Capra em “O Tao da Física”, que mudaram radicalmente a
maneira de se entender a ciência, da abordagem reducionista mecanicista para
uma abordagem ampliada e complexa, onde as conexões e relações entre os
fenômenos são extremamente importantes e não podem ser ignoradas, trazendo a
ideia de unidade ao invés de blocos separados e isolados um do outro. O próximo
capítulo dará ao leitor melhor entendimento da Ciência de Goethe.
Referências bibliográficas:
Berry, T. (1988) ‘Patriarchy: A New
Interpretation of History’ page 138 – 162 in ‘The Dream of the Earth’. San
Francisco, Sierra Club Books.
Bolen, J. (2010) terceira edição. Os Deuses e o Homem: uma nove
psicologia da vida e dos amores masculinos. São Paulo, Paulus.
Bortoft, H. (1996) The Wholeness Of
Nature: Goethe’s Way Of Science. Edinburgh,
Floris Books.
Campbell, J. (2008) Mito e Transformação. São Paulo, Ágora. Capra, F. (1997) The Web of Life: a new
synthesis of mind and matter. London, Flamingo.
Capra, F. (2011) O Tao da Física: uma análise dos paralelos entre
Física Moderna e o Misticismo Oriental. São Paulo, Cultrix.
Dethlefsen, T. & Dahlke, R. (2007) A Doença Como Caminho. São
Paulo, editora Cultrix.
Kumar, S. (2009) Earth Pilgrim. Totnes, Green Books.
Nowak, M. (2011) Super Cooperators:
altruism, evolution, and why we need each other to succeed. New York, Free
Press.
Stamets, P. (2005) Mycelium Running: how
mushrooms can help save the world. USA, Ten Speed Press.
Fehr, E. & Fishbacher, U. (2003) ‘The
nature of human altruism’, in Nature 425, 785-791. Available: http://www.nature.com/nature/journal/v425/n6960/abs/nature02043.html#top
[06/07/2011]
The Free Dictionary [08/07/2011]
Available: http://www.thefreedictionary.com/machine
Nenhum comentário:
Postar um comentário