Por: Mário Inglesi
Os pais já tiveram os mais variados estratos de importância social.
Eis que, em tempo não muito distante, ele figurou como Pai-Patrão,
isto é, além de mantenedor da casa e da família, cabia a ele dirigir e ordenar
o destino e o lugar da mulher e dos filhos, não havendo quem pudesse
contradizer ou infringir suas regras. Ele era, então, o “todo poderoso”: o
patrão, o comandante em chefe, o guia, o exemplo a ser seguido. Tinha lugar
proeminente e determinado não só dentro de casa, à mesa, - sempre à cabeceira-,
mas também fora dela. Usava e abusava, em sua conduta amorosa, tendo amantes para
as quais montava casa, ou, frequentando bordéis, ou “pubs” onde pudesse ficar e
agir livremente. Nesse particular encaminhava os filhos homens, arranjando-lhes
até quem os iniciasse na vida sexual. Nesse particular leia-se o romance, “Amar
Verbo Intransitivo”, de Mário de Andrade, ou veja o belo filme baseado nessa
mesma obra.
Com o passar do tempo e a modificação dos usos e costumes, esse
pai foi sendo substituído por outro, menos autoritário e possessivo em relação
ao lar, à mulher e aos filhos, chegando então à configuração de “pai-herói”:
mais compreensivo, mais chegado aos filhos e sem muita interferência, a não ser
sua glorificação pelos que o rodeiam, em razão de seus esforços incomuns na
manutenção do lar e na criação esmerada dos filhos, que o viam como exemplo a
ser seguido pela vida afora.
As mazelas, as quizilas, e o poder, foram aos poucos afrouxando,
dando lugar à humanização do pai, cujo carinho e atenção, agora se faziam
presentes.
A roda viva em seu giro permanente e frenético não parou por aí, e
mais uma vez, o “pai” teve sua imagem alterada e sua posição abalada pelas
forças econômicas do capitalismo e suas exigências.
O “pai” toma uma outra configuração: Deixou ele de ser o provedor
e mantenedor do lar, já que compartilhou, doravante, seus afazeres e atributos
com sua companheira, que passou também a contribuir com seu esforço econômico
fora do lar, perfazendo jornadas duplas e quiçá triplas.
Com isso, os papéis de pai e mãe sofreram radical transformação,
uma vez que perderam a sua definição primeira e se confundiram no dia a dia,
inclusive perante os filhos.
Deste modo, todo o arcabouço que os rodeava ruiu e os filhos –
principalmente eles - sentiram o peso dessa mudança, não tendo mais a quem
recorrer ou guiar pela vida afora, em sua educação e em suas horas aflitivas de
adolescentes, se viram jungidos a adultos, de repente, donos de seus narizes e
destinos.
Aquele pai presente em todas as horas e em todos os momentos de
angústia e insatisfação desapareceu, ou mudou-se, perfazendo
outras novas famílias, novos lares com meios irmãos e irmãs, o que também
ocorreu com o lado da mulher e seus novos parceiros, ampliando assim o núcleo familiar.
E, o novo pai, não podendo mais ausentar-se na compartilha do lar
e suas exigências, vai, para a cozinha, refugia-se o quanto pode em angústias e
choradeiras, nunca vistas anteriormente, mas humanizando-se como nunca dantes
visto.
Seus excessos e exageros para com os filhos, na tentativa de
preencher suas ausências de maior participação com todo tipo de materialização,
talvez advenha dos resquícios de sua formação, onde vigora tenazmente o dito “é
dando que se recebe”, como mera incongruência.
De todo modo, é a vida, em suas loucuras de transformação e
exigência. Afinal, nada é gratuito, nada
acontece só porque queremos ou desejamos.
Mas pai é pai, ainda que, no rol da vida, venha sendo considerado
apenas um formatador de filhos, - mera inveja - e como tal, com obrigações
legais a serem cumpridas de maneira plena e irreversível, continua sendo “o
pai” pela vida toda, ainda que com idiossincrasias, desarticulações de
atitudes, geração de dissabores, dissenções, acertos e obsessiva busca em
começar e recomeçar.
A todos eles, pais, portanto, sejam eles como forem ou se
apresentem um “Feliz dia dos Pais”.
Mário Inglesi
Belíssimo texto, Mário Inglesi. Pontuou com precisão o lugar e o papel do pai ao longo da história, sem se esquecer do balanço final: os filhos. Sem receita, ser pai ou ser mãe parece tarefa cada vez mais homérica e incompreensível diante de um dos mais simples e belos dados da natureza: o de gerar um filho.
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