Perguntas e respostas são irmãs
em diferentes estágios de maturidade. A pergunta é a resposta que ainda não
nasceu. Como não nasceu, pode ser todas as respostas imagináveis e
inimagináveis. Ainda que a pergunta seja mais antiga que a resposta, e,
portanto, com mais saber em si, a pessoa média quer respostas.
A pessoa média não aprecia
pensar sobre a morte, mas não percebe que respostas se assemelham a perguntas
mortas. Pobres aqueles que têm suas perguntas todas respondidas. As perguntas
tecem o chão que sustentam os corajosos. Sim, pois a ação do coração é a melhor
resposta e que sempre pode acontecer de outros modos, ainda que a pergunta se
repita.
Cada pulso do coração é a
resposta necessária para que a vida prossiga. Se o coração não responde, a
pergunta cala. No calabouço, é a pergunta que tem o poder de renovar, reanimar,
ressuscitar. Perguntas vibram com a vida. Uma resposta representa a morte de
todas as possibilidades.
Quando penso quem sou, devo
lembrar de incluir se sou mais pergunta ou resposta, mais nascimento ou morte
em meus encontros e ainda se sou mais possibilidades ou certeza. E uma vez
sabendo, me corrigir em cada respiração, essa pequena fatia de porvir que nos
define.
A pergunta está grávida! Conhece
esse estado? Sabe o que nascerá?
Então? Como alcançar esse estado
de portar em si todas as perguntas? Como suportar a tensão dilacerante das
respostas indigestas? Como viver a tentação da escolha de possibilidade que
exclui as demais? Como na esperança do parto normal aceitar a necessidade da
eventual cesariana?
Enfim, como libertar a mente dos vícios e compreender que todo
preconceito reside na resposta certa e na certeza, que é ainda mais mortal e
cada vez menos vital, quando absoluta. Como será portar todas as perguntas? Não
lhe parece mais do que portar todas as respostas?
Existem coisas que sabemos e também coisas que sabemos que não sabemos.
Mas existe uma terceira natureza de coisas, as mais interessantes. Falo das
coisas que não sabemos que não sabemos. Ouso dizer que as perguntas estão mais
próximas dessa última classe de coisas, do que as respostas. Perguntas são
movimentos e respostas são paradas; sim é preciso parar eventualmente, mas sem
perder de vista o fluxo e o fluir.
A pergunta é uma das, senão a maior conquista na vida da pessoa. Quando a
pessoa atinge sua maturidade plena surge a pergunta. A pergunta é a melhor
síntese que alguém pode alcançar em relação a um assunto. Todas as respostas
moram nela. Quem seria esse ser capaz de suportar em si o movimento de todas as
respostas. Quem poderia suportar em seu íntimo a liberdade de arbítrio de cada
resposta e ainda assim sustentar a vida da pergunta?
A pergunta é curva e nela não é possível a visão definir o que está por
vir. A resposta é reta, não se esconde, pode ser vista. Mas, e sempre há um
mas, quando eu vejo, meu interior se dobra, se curva, tende a...
Na insuficiência da prosa, com a devida licença:
Ainda que curvas, uma dentro e outra fora, diferentes aspectos afloram. A
curva dentro deforma o ser enquanto a outra reforma. Reformar é o efeito
vivificante da morte. Deformar é seu lado que nos faz temer; que nos
impossibilita permanecer quando o aspecto físico já não mais pode se sustentar.
Quando aprendo a caminhar nas curvas da vida e com o “pão de cada dia”,
de surpresa, de coincidência, da mudança me alimento, cada vez menos terei que
comer do “pão que o diabo amassou”.
O sobrenome da certeza é absoluta e seus irmãos gêmeos a prepotência e a
soberba.
Não saber não é um estado vazio, senão de posse de todas as perguntas
associado a outro estado, o de permeabilidade plena a todas as possibilidades.
Essa permeabilidade é o princípio da sabedoria, assim como a certeza é o
princípio da vida infernal. Claro que me refiro aqui ao inferno grego - entrada, tribunal e as três regiões comandadas por Hades.