Os pés, no zodíaco
representados por Peixes, representam a culminância da história cósmica de
nossa humanidade. História que principia na cabeça (Áries), atravessa todas as
hierarquias zodiacais e as diferentes partes do corpo que elas regem até
alcançar a horizontalidade da superfície terrestre. Sim, pois os pés
representam a consciência do contato com a terra. Na horizontalidade da terra
os pés nos conduzem quando nos dispomos e não oferecemos obstáculo; eles são a
última instância do querer que nos move.
Exceção feita ao
folclórico Saci, não há um pé mais importante que o outro; o pé direito e o
esquerdo compõem o atual estado humano. Quando o Humano é saudável, não
claudica e não exige ou prefere pisar à direita ou à esquerda, senão apenas
pisa. Se prefere um ao outro sente pena e afunda, já ao não preferir, as penas
se reúnem em asas de voar e os pés deixam de ferir a pele da Terra. Voar
permite ver de cima o movimento do abraço fraterno da respiração
direita-esquerda.
Os pés guardam relação íntima
com o perdão, sendo comum que eles doam ou se machuquem na medida em que me nego
a exercitar o perdão, seja na coragem do sentido ativo de perdoar ou na
resignação do pedir perdão. Cabe à nossa humanidade criar asas nos pés, para
que eles sejam alçados ao alto de onde vieram. Morfologicamente semelhantes aos
ouvidos, os pés portam em si todos os pontos de acupuntura em sua superfície.
Isso mostra que somos destinados a escutar a terra e que devemos tornar nossos
pés, como que um segundo ouvido, com a finalidade de contar ao alto tudo o que
se passa aqui nesse plano (como em cima em baixo).
É fundamental, apesar de
nossa única parte que funciona na horizontal, que de tempos em tempos
permitamos que eles se verticalizem. Como fazer isso? Sempre que reverentemente
nos curvamos e agradecemos à vida e a Deus pelo mistério que nos envolve e que
permite que continuemos a ser, apesar dos tantos equívocos cotidianamente
cometidos. Quando ajoelho, meus pés se verticalizam e com eles subo aos céus, se
não por mim, pela graça que me acolhe em oração. Praticar a verticalização dos
pés ao ajoelhar é o melhor preparo para a verticalização última dos pés, quando
a respiração deixa de ser e o corpo se deita de forma definitiva.
Pedras nos sapatos se
formam quando não há oração (aspiração) e nos tornamos vítimas da gravidade
terrestre (desespero); a oração que não sobe se cristaliza e empedra. Caminhar
sem oração é errar, seu oposto é curar. É preciso, que à semelhança do Cristo,
descalcemos nossos pés e lavemos os pés dos que se nos apresentam como irmãos.
A atitude descalça aguça a audição assim como os pés limpos.
Não, os representantes
dos três poderes não estariam dando um tiro nos pés se deslocassem seus
escritórios para áreas próximas às favelas. A oportunidade de elevar suas
consciências podálicas a ambientes tão anecúmenos, culminaria em algum momento em
uma melhor compreensão das necessidades de quem nelas mora. Palmilhar
diferentes solos é tornar-se consciente das diferentes nuances do humano.
Peixes, os pés, é um
signo relacionado com o elemento água. A gravidade celeste evapora, eleva,
enleva, aspira e faz chover. A água que não evapora aos céus se torna
desespero; as águas que o fazem, esperança, porque chovem e agraciam a terra.
Que nossas águas chovam e não chorem. Que eu abençoe antes a despertar pena. Quando
eu purifico e elevo minhas águas, meu sangue se purifica e pode receber, além
de mais conscientemente aprender o meu Ser. O sangue purificado é abençoado e
visitado cada vez mais por aqueles que inspiram e conduzem, e cada vez menos
por aqueles que viciam, vampirizam e induzem.
Notemos quando caminhamos
e palmilhamos o chão, como os pés se assemelham a dois corações que, ao pisar
sobre o plexo venoso na sola, bombeiam o sangue para cima; sangue que ascende
com todo o aprendizado do percurso. Caminhemos e sejamos corações nos pés, quem
sabe seja esse o primeiro passo para criar asas nesse órgão tão pouco visitado
pela nossa atenção apesar de tão frequentemente pisoteado por todos.