No cinema, teatro e na
vida as coisas podem ir bem ou não. Tem histórias que acabam bem e outras que
não. Tem pessoas que são de bem e outras que não; não chegam a ser más, apenas
não de bem. Não de bem com a vida.
Os amigos que gostam de
filmes e peças com final feliz tendem à desconfiança, apreciam o controle e
geralmente conhecem o medo. Julgam saber o que é certo ou errado com muita
clareza. Chegam a ser quase preconceituosos. Não gostam do feio, evitam. De
fato, o feio não faz parte da vida deles; como poderia? Vivem de aparências e de
comparações. Afinal, se eu não me comparo com algo, como saber quem sou? Quem
não tem dentro encontra suas referências fora. Vive no espelho, como a bruxa da
branca de neve.
Alguém disse que o hábito
faz o monge. Também o hábito da necessidade do final feliz ou conclusivo é
determinante do perfil da pessoa. Após a descrição da anatomia neurológica dos
neurônios em espelho, pessoalmente noto que isso é muito verdadeiro. Nos
relacionamos empaticamente com aquilo com que nos alimentamos; nos tornamos
nossos “alimentos”. O prisioneiro do final feliz precisa que alguém lhe mostre
o sentido, explique o porquê das coisas. A pessoa final feliz está mais refém do
mundo das informações que convencem em decorrência do sentido aparente. O
economista Nassim Nicholas Taleb no clássico “A Lógica do Cisne Negro” esclarece
com simplicidade o poder das notícias que explicam, que associam uma causa a um
dado efeito, que induzem, enfim que tentam mostrar que tudo está sob controle
porque tudo se explica e se justifica; inclusive o mercado financeiro. Claro o
sentido é sempre desejável, desde que proposto, raramente quando imposto e se
possível que seja composto entre as partes envolvidas.
O absurdo deve sempre ser
considerado e computado enquanto possibilidade; tudo é possível, nos cabendo
apenas considerar probabilidades. O pensador Guimarães Rosa tem histórias que
mostram isso. Teria o jagunço Riobaldo considerado a possibilidade de Diadorim
ser quem era?
Os amigos que gostam de
filmes com outros tipos de finais são diferentes. Diferentes de todos os
outros. São únicos. Chegam a ser chatos de tão únicos. Se percebem tão bem a
partir de dentro, pois têm vida interior, que parecem não se importar com o
mundo exterior. Mas se importam sim; querem fazer diferença. Sabem que as
coisas nem sempre acabam como gostariam e que o imprevisto e o inusitado são
faces da felicidade nem sempre bem-vindos.
Gosto de todo tipo de
final, mas também quando não termina. Quando não há final, então o caminho e a
caminhada podem ser o próprio fim.