“No
princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.” (João
1:1).
Tudo começa com a palavra – pensada, falada ou
escrita. Por meio dela, o ser humano constrói realidades internas e externas,
define roteiros que podem levá-lo a prazeres carnais, objetivos materiais,
reinos celestiais ou aspectos sombrios do inconsciente. Da abundância à ruína,
da felicidade à depressão, da saúde à enfermidade.
Um olhar atento constata que em toda escolha de
vida os “mantras”, mensagens de caráter repetitivo, recebidas e emitidas,
interferem muito em nossas decisões. De origem sânscrita, a palavra mantra
possui dois significados: 1) palavra ou som repetido para ajudar a concentração
na meditação, 2) declaração ou slogan repetido com frequência
(Dicionário Oxford, 2016).
O uso da palavra “mantra” com o significado de
declaração ou palavra de ordem é frequente entre jornalistas, professores de
economia e até mesmo autoridades. Haja vista declaração recente de um
ex-ministro brasileiro de que a “austeridade” seria o “mantra” permanente do
novo governo (FERREIRA, 2016).
Na presente obra, resultado de monografia
apresentada no curso de especialização em Cuidados Integrativos da Unifesp, o
termo foi considerado em sentido amplo (lato sensu), desde o aspecto
sagrado – sons, ladainhas e orações, como o OM, o AUM e o Pai-Nosso – ao
profano dos decretos, slogans e afirmações presentes na estrutura
familiar, cultural, cotidiana e, principalmente nos meios de comunicação, os
maiores difusores de mensagens liminares e subliminares.
Vale saber que 95% dos brasileiros passam mais de
quatro horas por dia em frente à televisão, absorvendo informações muitas vezes
de caráter questionável. O rádio figura em segundo lugar nas preferências,
seguido das plataformas digitais, dos jornais (a fonte mais confiável, segundo
a Pesquisa Brasileira de Mídia, SECOM, 2015) e das revistas. Já as novas
mídias, as redes sociais, são as favoritas de 92% dos internautas.
Dos sons, imagens e textos veiculados neste
universo, entre 50% a 90% possui teor negativo, estando ligado a temas como
violência, corrupção, desarmonia familiar, traição e sexo doentio. A exposição
intensa a estas temáticas, aliada à falta de sentido existencial, provoca reações
em nosso cérebro, incentiva e “legaliza” comportamentos, dessensibiliza para a
realidade e torna o pensar e agir compulsivos. Como atraímos tudo por
ressonância interna, acabamos sempre atraindo mais do mesmo.
Afinal, podemos fechar os olhos e escolher não
olhar para algo, mas nossos ouvidos permanecem abertos e sensíveis durante toda
a vida, mesmo durante o sono. Quem de nós não conhece pessoas que têm televisão
no dormitório e adormecem com o aparelho ligado? Ou que perdem horas preciosas do
dia com programas, leituras e conversas que não lhes acrescentam nada...
Estas atitudes ativam um “poder” criativo
gigantesco, se considerarmos que a mente humana gera, em média, 60 mil
pensamentos por dia, 60% a 70% deles negativos. O que fazemos com esses
pensamentos, essas palavras e imagens que surgem em nossas mentes, define em
parte o roteiro de nossa vida. Se os interiorizamos, ruminamos ou simplesmente
deixamos ir...
Daí a importância de conhecer mais de perto as
mensagens que recebemos do entorno desde o nosso nascimento e também o Universo
de Comunicação, com sua capacidade imensa de transformação que pode ser usada
de forma terapêutica a qualquer momento. A partir da identificação de nossos mantras
dominantes, podemos refletir com mais clareza sobre seus efeitos na nossa
conduta e saúde. Podemos começar a mudar...
O manejo consciente e terapêutico das mensagens,
imagens e sons que dominam nosso cotidiano representa alternativa interessante
para alterar as memórias celulares de dor e a dinâmica de pensamentos e
crenças, no sentido de promover a maturidade e o equilíbrio necessário para uma
vida plena e saudável, assim como para exercer qualquer atividade ligada à
cura.
Com essas ponderações, esperamos fortalecer em
outros humanos o exercício do livre pensar e o ressurgir do Ser tão essencial.
Regina
e Ricardo