Por: Dra. Viviani H Yamazaki – Médica
de Família
Ricardo, boa noite:
Escrevi
o texto abaixo naquele dia de caos na cidade, que um quarto da população de
SP ficou sem energia elétrica (alguns até mais que 24 h), publiquei em minha
linha do tempo do facebook. Fiz isso porque muitos amigos reclamaram que o ar
condicionado não funcionava, que não era possível conectar o “wi fi”, portão
eletrônico, etc... Então, resolvi falar um pouco sobre a situação nos
hospitais, quando o gerador demora a ser ativado e a angústia que ocorre nesses
momentos. Enfim, recebi várias mensagens de reflexão, afinal nem todo
mundo é da área da saúde. Foi legal porque despertou um sentimento de
humanidade e impotência em pessoas que levam a vida muitas vezes voltada para
outros interesses. Achei interessante encaminhar para você, já que o blog
tem um direcionamento para consciência e reflexão...
Boa semana
com muita energia positiva em bomba de infusão contínua!
Ontem resolvi expressar minha indignação,
cada vez que chove é esse stress, a luz acaba os semáforos ficam bandeirados,
os motoristas disputam cada milímetro de espaço, de forma irracional e muitas
vezes violenta. Muita gente se preocupa por que não entrou a internet e a “Tira
Visão” a cabo permanece sem sinal, o ar condicionado que não liga, reclamam que
a Eletropaulo, empresa suspeita de não ser fiscalizada de forma adequada, é
terra de ninguém. Pagamos muitos impostos pelo que recebemos e em muitos países
desenvolvidos a rede elétrica é subterrânea, sem a ação dos ventos ou queda de
árvores. Sem dúvida, diante de todo contexto, o mais grave de tudo, é a
situação nos hospitais. Quando a luz acaba, até entrar o gerador é uma grande
correria, são instantes de agonia, o hospital inteiro corre para atender os
idosos, pacientes graves e crianças entubadas. Até o gerador funcionar, são
realmente segundos e minutos de aflição. Quando o respirador não funciona, a
oxigenação é feita manualmente pelos próprios funcionários do hospital, os
pacientes de UTI que já estão no limite da vida podem passar em alguns segundos
para a morte. Isso em um hospital privado, onde todo o treinamento funciona
como uma orquestra sinfônica bem sincronizada, as complicações são mínimas e o
exército geralmente é bem treinado. O que me entristece e realmente me
preocupa, é que fico pensando quantos são os hospitais da rede pública que não
possuem os mesmos recursos, que não seguem os mesmos treinamentos a risca, os
chamados procedimentos normativos. É muito triste e inaceitável saber neste que
exato momento, quando acaba a eletricidade na cidade de São Paulo, muitas
pessoas morrerão reféns do abandono da saúde nos hospitais públicos. Esses
atestados de óbito talvez devessem ser preenchidos não pelos médicos, mas pelos
governantes e pela empresa Eletropaulo, que não responde às criticas, reclame
aqui, não são bem fiscalizadas, fazem e dizem o que querem livres de qualquer
punição!! Proclamam em cadeia nacional, que estão preparados com medidas
preventivas para evitar a queda de luz na cidade, mas na prática não é
exatamente o que observamos nesse período de chuvas. Deixaram toda a população
no escuro e totalmente à deriva, sem o menor respeito ou comprometimento com a
vida humana!
Viviani H Yamazaki