POR MÁRIO INGLESI
Apesar
de sua idade tão avançada, São Paulo continua firme e impávida, enfrentando
toda sorte de vitupérios e vilipêndios em razão de seus problemas, advindos
talvez por seu gigantismo em fazer-se e desfazer-se, em construir e se
desconstruir em movimentos infindáveis e paradoxais, trazendo à tona, cada vez
mais, os descalabros de uma grande cidade, como o trânsito infausto e seu
congestionamento, a poluição sem fim que a assoberba, a violência urbana cada
vez maior e mais atuante em lugares nunca dantes imaginados.
Mas o
que a cidade tem de mais evidente, hoje, é a não identidade de seus membros e a
inexistência da possibilidade de qualquer relacionamento, o que a leva a tratar
o outro, nimiamente, como inimigo, com um desdouro que exala preconceito em
vários graus, com exigências absurdas que afloram desde a cor da pele à segunda
pele – a vestimenta -, até os modos e maneiras de ser e de se comportar,
esquecendo-se que o ser humano, por sua natureza é múltiplo: uma metamorfose
ambulante, não há quem o faça ser e agir igualmente. Quando muito configurar-se,
apenas, como semelhante.
Afinal,
a genética, a educação, fazem-no único e a sociedade, em sua multiplicidade, os
molda e os faz agir diferentemente do que lhe apregoam como ser civilizado e
afeito a regras inopinadamente constrangedoras, de caráter meramente impositivas
e antidemocráticas, como se todos fossem obrigados a vestir uma farda e fazer
continência e possuir um pensamento único.
Afora
isso, felizmente, a cidade continua a zelar pela sua efervescência cultural e
sua diversidade sem limites, trazendo à tona, desde seus primórdios, a
grandiosidade de luminescência compatível só a grandes cidades, como a ensejar
uma festa noturna, com sua mirabolante variedade de luz e cores, ao som de
ruídos sonoros os mais diversificados e estridentes, como a dizer estamos aqui
todos acordados, para vos servir, em horas as mais aprazíveis para um repasto,
uma festança, uma virada cultural, ou simplesmente um estar à toa, como
andarilhos, em passeios pelas ruas e avenidas da cidade de São Paulo. Ou em
bicicletas, motos ou mesmo de carros no afã de curtir a cidade e sua
luminosidade, que dispensa até uma noite enluarada.
Para tanto,
basta conferir seu cardápio de eventos culturais, como acontecem em museus,
praças, salas de concertos, monumentos, galerias, casas noturnas, teatros,
hotéis e restaurantes e tantos outros quitutes requintados a disposição para
serem saboreados por quem aqui puder comprazer-se dessa “pauliceia desvairada”.
Se nada
disso, for possível, feche os olhos e sonhe acordado com o deslumbre dessa
cidade em mais um aniversário e reveja, mentalmente, a sua história e o quanto,
povos daqui e de outros lugares dos mais distantes países, por aqui aportaram no
trabalho diversificado, diuturno e estafante em prol da construção dessa cidade
e seu engrandecimento econômico, visual e feérico, e, então, pensar no que
puder compartilhar a favor da grandeza laboral e majestosa dessa cidade.
Assim,
quem sabe, como Mário de Andrade, possa também declarar:
“São
Paulo!
Comoção
da minha vida”
Vivas e
brindes a São Paulo, em todo o seu desvario, e carnavalização neste seu
aniversário, com “rolês” ou sem. De todo modo, a cidade é de todos, como “o céu
é do condor”.
Mário
Inglesi