Atualizando (primeira 14/06/11 20:41)...
Respirei
pela primeira vez, aqui na terra, no dia do amor! Ensinaram-me, de início, que
era dia dos namorados, 12 de junho, mas com o tempo compreendi a vã tentativa de
comercializar o que não deve ser comercializado sob nenhuma hipótese. Naquele
ano, 1968, Corpus Christi, data simbólica em homenagem ao representante maior
do amor, Jesus Cristo, foi no dia seguinte; nasci no dia do pequeno Mercúrio
(na língua portuguesa: quarta feira), véspera do dia do grande Júpiter (na língua
portuguesa: quinta feira), portanto, dia da grande festa!
Muito se tem falado sobre
o amor, mas enquanto alguns falam do que não é “falável”, outros o vivem e
irradiam o aroma que ajuda lembrar pelo que viemos enquanto habitamos a carne.
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor,
serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e tenha
todo o conhecimento; ainda que eu tenha toda a fé, a ponto de remover montanhas,
se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens para dar de comer a outros, e
ainda que entregue o meu corpo para que tenha de que me gloriar, se não tiver amor,
nada disso me aproveitará.
O amor é paciente. O amor é bondoso; não é ciumento. O amor não se
vangloria, não se ensoberbece;
não se conduz inconvenientemente, não procura os seus próprios interesses;
não se enfurece, não se ressente do mal;
não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
tudo cobre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; quanto às profecias, se tornarão inúteis; as línguas
cessarão; o conhecimento se tornará inútil.
Pois em parte conhecemos, e em parte profetizamos;
quando, porém, vier o que é completo, o que é em parte se tornará inútil.
Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino, julgava
como menino; quando me tornei homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho, obscuramente; mas então veremos face a
face. Agora conheço em parte; mas então conhecerei plenamente, assim como
também fui plenamente conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o
maior destes é o amor.
1 Coríntios 13
Se por um lado o amor é
graça, por outro é dom, dom supremo. Graça para a qual devemos sempre estar
abertos e dom para que possamos praticar. As "musculaturas" da alma e
do espírito se fortalecem na prática da “halterofilia” do amor, conforme o
Peregrino nos ensina:
Há os que falam, os que escrevem,
os que vivem, os que classificam e os que são. Ser é nosso objetivo supremo e é
neste verbo curto que se esconde em nossa língua o fundamento da palavra saúde.
Já percebeu que são é saudável, mas também é ser no plural? Ser são é ser vivo,
é plenificar a existência humana. Mas não é possível, como a palavra ensina, ser
são só! A saúde é um estado comum e pleno de bem estar familiar humano e seu
significado maior só pode ser contemplado enquanto realidade ubíqua. Sem
pressa, mas sem demora, tornemo-nos conscientes daquela pequena parte que nos
cabe e sejamos mais amorosos com os que ainda não perceberam a sua.
Jean-Yves Leloup em seu
livro “O essencial do amor” nos presenteia com um estudo etimológico que com
propriedade, ajuda a nos aproximar das possíveis roupagens do amor em dez
instâncias, aquelas que hoje nos são compreensíveis.
1- Pornéia – amor apetite – vou devorar-te,
comer-te – amo-te como um animal. É amor captativo, que reduz e torna objeto.
2- Pothos – amor necessidade – És tudo para
mim – sinto necessidade de ti – amo-te como uma criança. Desejo de posse.
3- Mania Pathé – amor paixão – Amo-te de paixão,
estou apaixonado por ti – és meu e só meu – amo-te como um louco, não posso
viver sem ti. Sedução, amor possessivo.
4- Eros – amor erótico – sinto desejo por ti
– tu me dás prazer, és lindo – és jovem. Desejo de satisfação e de satisfazer.
É amor interessado.
5- Philia – amor amizade – tenho respeito e
admiração por ti – aprecio nossas diferenças – sinto-me bem sem ti, e ainda
melhor contigo – és meu amigo – gosto de estar contigo – és benfazejo para mim.
É amor interessado
a. Xeniké – amizade, troca
b. Hetairiké – hospitalidade
c. Erotiké – amizade erótica
d. Phisiké – amizade parental
6- Storgé – amor ternura – Eu me supero quando
estás comigo – sinto muita ternura por ti – estou feliz porque estás comigo. O
carinho. É amor interessado.
7- Harmonia – Como a vida é linda quando amamos
– estamos bem juntos – contigo tudo é música, o mundo mais belo. A bondade. É
desinteressado.
8- Eunoia – amor dedicação – gosto de cuidar
de ti – estou a serviço do melhor de ti mesmo. É a compaixão. É desinteressado.
9- Charis – amor celebração – Amo porque te
amo – é uma alegria, é uma graça amar e te amar – amo-te sem condições, amo-te
sem razões. É a gratidão. É desinteressado.
10- Agapé – amor de graça – O amor que faz
girar a Terra, o coração humano e as outras estrelas – Não sou eu que amo e te
amo, mas é o Amor que ama. É o Ser. O Amor mesmo.
Mas se escrever e definir
são importantes, é pouco comparativamente ao que o artista é capaz de produzir
e acessar na obra de arte. O artista é o médico do futuro. Nesse sentido o
passeio que se segue no link resgata e lembra como no hebraico antigo o amor se
vestia. Difícil entender como é possível sabermos tanto há tanto tempo e ainda insistirmos
tanto em alguns hábitos...
Saberás que
não te amo e que te amo
Porquanto de
dois modos é a vida,
A palavra é
uma asa do silêncio
O fogo tem
sua metade fria.
Eu te amo
para começar a te amar,
Para
recomeçar o infinito
E para não
deixar de te amar nunca:
Por isso
mesmo é que ainda não te amo
Te amo e não
te amo como se tivesse
Em minhas
mãos a chave da ventura
E um incerto
destino desditado.
Meu amor tem
duas vidas para amar-te
Por isso te
amo quando não te amo
E por isso te
amo quando te amo
PABLO NERUDA
– Cien sonetos de amor
Mas, aos que associam
amor à recompensa, posse e ao ciúme, ingredientes do medo da perda e marcas do
ser apegado, Krishnamurti escreve o seguinte:
Segundo Erich Fromm:
“Amar é uma expressão do
poder da gente para amar, e amar alguém é a concretização e concentração desse
poder com relação a uma pessoa. Não é verdade, como o sustentaria a ideia de
amor romântico, que só existe aquela única pessoa no mundo a que se possa amar
e que a grande oportunidade da vida do indivíduo é achar aquela pessoa. Nem
tampouco é verdade, caso seja achada aquela pessoa, que o amor a ela (ou ele)
produza o desaparecimento do amor a outros. O amor que só pode ser
experimentado com relação a uma única pessoa demonstra, por este simples fato,
não ser amor, mas uma ligação simbólica. A afirmação básica que se contém no
amor dirige-se para a pessoa amada como uma encarnação de qualidades
essencialmente humanas. O amor a uma pessoa implica amor do ser humano como
tal. O tipo de “divisão do trabalho”, como William James a denomina, por meio
da qual a pessoa ama sua família, mas não tem sentimentos para com os “estranhos”,
é um sinal da incapacidade básica para amar. O amor ao homem não é, como amiúde
se imagina, uma abstração que se segue ao amor a uma determinada pessoa, porém sua
premissa, conquanto geneticamente seja adquirido amando-se indivíduos em
particular.”